Empresas brasileiras gerenciam resultados com Goodwill? Estudo revela evidências de small loss avoidance
"O reconhecimento de perdas por impairment do goodwill nas demonstrações financeiras tem ocupado espaço relevante nos debates sobre transparência e qualidade da informação contábil no Brasil. Um estudo publicado na Revista Enfoque: Reflexão Contábil investiga se as empresas brasileiras têm utilizado a discricionariedade permitida pelas normas contábeis para gerenciar resultados, especialmente na direção de evitar a divulgação de pequenos prejuízos. A pesquisa foi realizada por Eli Rogério Delgado e Verônica de Fátima Santana, ambos da FECAP.
A análise abrangeu dados trimestrais de 593 empresas brasileiras listadas na CVM, no período de 2010 a 2019. O objetivo central foi identificar se a contabilização do impairment do goodwill – isto é, a redução ao valor recuperável desse ativo intangível – é empregada como instrumento de gerenciamento de resultados. O estudo concentrou-se em duas estratégias: a suavização de lucros (income smoothing) e a prática conhecida como small loss avoidance, que consiste em evitar a divulgação de pequenos prejuízos.
Foram coletados manualmente os valores de impairment diretamente das demonstrações financeiras das companhias, e aplicados modelos estatísticos consagrados para detectar indícios dessas práticas. As empresas foram agrupadas em três categorias: aquelas com goodwill e reconhecimento de impairment, aquelas com goodwill mas sem impairment, e aquelas sem goodwill. Essa segmentação permitiu comparar o comportamento contábil dos diferentes grupos ao longo do tempo.
Os resultados apontaram que não houve evidência estatisticamente significativa de suavização de lucros por meio do impairment do goodwill. Contudo, foi observada a presença da prática de small loss avoidance: empresas que reconheceram impairment do goodwill apresentaram uma frequência significativamente maior de pequenos lucros em comparação a pequenos prejuízos, sugerindo que a despesa de impairment pode ser utilizada para ajustar resultados e evitar reportar perdas mínimas. Esse comportamento pode afetar a percepção dos investidores e analistas sobre a estabilidade financeira da empresa.
O estudo também mostrou que empresas com maior volume de goodwill registrado, menor rentabilidade e menores valores de perda esperada tendem a reconhecer impairment com mais frequência. O pico dessas despesas ocorreu especialmente nos anos de 2015 e 2016, contexto associado à instabilidade econômica do período.
Os autores destacam que o gerenciamento de resultados via impairment do goodwill, embora não constitua fraude, pode afetar a qualidade e a comparabilidade das informações contábeis, impactando decisões de usuários externos. Recomenda-se atenção redobrada de analistas, investidores e reguladores ao interpretar os resultados financeiros de empresas que apresentam impairment do goodwill de forma recorrente."
Eli Rogério Delgado – contelli@contelli.com.br
Verônica de Fátima Santana – veronica.santana@fecap.br
Conheça o estudo na íntegra
O artigo completo está disponível na Revista Enfoque: Reflexão Contábil através do link https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Enfoque/article/view/62061/751375160194
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