Aula fantástica e bom professor: o que dizem estudantes de Contábeis
"Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) mapearam, à luz da andragogia, como estudantes de Ciências Contábeis definem uma “aula fantástica” e os atributos de um “bom professor”. O estudo, publicado na Advances in Scientific and Applied Accounting (ASAA), v.18, n.1 (jan.–abr. 2025), combina revisão teórica com análise empírica e fornece evidências acionáveis para desenho de ementas, metodologias e gestão docente nos cursos de Contabilidade.
A pesquisa é descritiva e longitudinal: reuniu 278 participações ao longo de 2021 a 2023, em três Instituições de Ensino Superior (IES) do Sul do Brasil (uma federal, uma estadual e uma privada), sempre no primeiro dia de aula das disciplinas de Contabilidade; estratégia pensada para reduzir vieses de desempenho momentâneo. O instrumento utilizou duas questões abertas (o que faz uma aula ser fantástica; o que um bom professor precisa ter), e o tratamento dos dados combinou análise descritiva e mineração textual com o KH Coder 3®, incluindo redes de coocorrência baseadas no coeficiente de Jaccard. Para aferir diferenças ao longo do curso, os autores segmentaram os respondentes em Início (1º ano, n=136), Meio (2º–3º, n=93) e Final (4º, n=49).
No enquadramento andragógico, as delimitações da “aula fantástica” mostraram forte aderência ao princípio “motivação para aprender” (136 menções), seguido de “necessidade de saber” (122) e “disposição para aprender” (56). Em menor frequência, apareceram “autoconceito” (19), “orientação para a aprendizagem” (14) e “experiência prévia” (6). Em termos práticos, os estudantes associam a aula fantástica a explicações claras, dinamismo, exemplos e casos práticos e interação professor–aluno, com destaque para os adjetivos “bom” (F=60), “dinâmico” (F=38) e “prático” (F=15).
Quanto ao “bom professor”, emergem atributos recorrentes: paciência, conhecimento técnico, didática, empatia e boa oratória; com os adjetivos “bom” (F=95), “acessível” (F=7) e “claro” (F=7) liderando as ocorrências, seguidos de “diferente” (F=6) e “compreensivo” (F=5). Os dados sugerem que os alunos valorizam quem conecta teoria e prática, varia estratégias e se comunica de modo acolhedor, compondo um ambiente que estimula a motivação intrínseca e facilita a transferência do aprendizado para situações reais.
As redes de coocorrência por etapa do curso refinam essa leitura. No Início, prevalecem termos ligados a paciência e tirar dúvidas, indicando necessidade de acolhimento e segurança didática nas bases. No Meio, ganham força domínio do conteúdo e clareza nas explicações, compatíveis com disciplinas mais técnicas e aplicadas. No Final, sobressaem “real” e “caso”, sinalizando demanda por contextos profissionais, estudos de caso e problemas práticos conectados ao trabalho; um alinhamento esperado dada a maior inserção no mercado nessa fase. Em todas as etapas, “empatia” e “didática” permanecem transversais.
Do ponto de vista pedagógico, os achados indicam que os estudantes tendem a centralizar a qualidade da aula na figura do docente, o que tensiona princípios andragógicos como autonomia e protagonismo discente. Isso abre uma frente concreta de aprimoramento: ampliar metodologias ativas, dividir o protagonismo e fortalecer a cultura de participação, sem perder a clareza, o vínculo com a prática e o cuidado relacional que os alunos demandam. Como implicações institucionais, o estudo oferece insumos para Núcleos Docentes Estruturantes (NDEs) e coordenações revisitarem ementas, critérios de seleção e avaliação docente, políticas de formação continuada e equilíbrio teoria–prática; em linha com as DCNs/2024 para Contabilidade.
Entre as limitações, os autores salientam o recorte amostral e temporal e o foco em cursos de Contabilidade; muitas vezes frequentados por trabalhadores–estudantes, recomendando novos estudos que combinem andragogia com teorias motivacionais e comportamentais para testar intervenções didáticas e mensurar efeitos sobre engajamento e desempenho. Em síntese, a evidência produzida oferece um guia prático: clareza de objetivos, metodologias variáveis, exemplos e casos, interação de qualidade e postura empática são elementos que, aos olhos dos estudantes, aproximam a aula do ideal “fantástico”. "
Alison Martins Meurer (UFPR) — alisonmeurer@ufpr.br
Conheça o estudo na íntegra:
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