Normas Internacionais de Contabilidade do Setor Público atraem Investimento Estrangeiro Direto? Painel com 32 países contraria a expectativa
"Pesquisadores vinculados à Universidade Federal do Paraná analisaram se a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade do Setor Público (IPSAS) aumenta a entrada de Investimento Estrangeiro Direto (IED). O estudo, publicado na Revista Contabilidade, Gestão e Governança (edição especial de agosto de 2025), avaliou 352 observações de 32 países que, juntos, respondem por cerca de 80% do IED global. Resultado central: a adoção das IPSAS não apresentou efeito estatisticamente significativo sobre os fluxos de IED. O trabalho foi assinado por Débora de Lima Begnini, Francisco Gleisson Paiva Azevedo, Henrique Portulhak e Claudio Marcelo Edwards Barros.
A motivação do estudo parte da promessa frequentemente associada às IPSAS: melhorar governança, transparência e comparabilidade das informações públicas, o que poderia fortalecer a credibilidade do país e torná-lo mais atrativo ao capital externo. Para testar essa expectativa, os autores construíram um painel anual de 2010 a 2021 e estimaram modelos dinâmicos por GMM-Sys, técnica apropriada para lidar com endogeneidade, instrumentos e autocorrelação em dados de painel. Os diagnósticos econométricos (AR(2), Hansen e número de instrumentos) sustentaram a robustez das estimativas.
Em todas as especificações avaliadas, a variável que representa adoção (parcial ou total) das IPSAS não mostrou associação significativa com o IED. Por outro lado, três determinantes clássicos apareceram como relevantes: IED defasado (persistência), abertura comercial e crescimento do PIB apresentaram relações positivas e estatisticamente significativas com as entradas de capital, enquanto a percepção de corrupção não se mostrou consistente na amostra mista de países desenvolvidos e emergentes. Esses achados sugerem que fatores econômicos e comerciais pesam mais na decisão do investidor do que a mera adoção de um padrão contábil público.
Do ponto de vista de políticas públicas, a evidência recomenda cautela ao incluir a convergência às IPSAS como instrumento direto de captação de recursos externos. O estudo não nega potenciais benefícios institucionais das IPSAS — como melhorias de governança já relatadas em outras pesquisas —, mas indica que sozinhas elas não se traduzem, de imediato, em maior IED. Para países que buscam ampliar fluxos de capital, os resultados apontam para a importância de combinar reformas contábeis com agenda macroeconômica, abertura comercial e estabilidade do crescimento."
Débora de Lima Begnini — debora.begnini@ufpr.br
Francisco Gleisson Paiva Azevedo — franciscogleisson@ufpr.br
Henrique Portulhak — henrique.portulhak@ufpr.br
Claudio Marcelo Edwards Barros — marceloedwards@ufpr.br
Conheça o estudo na íntegra
O artigo completo está disponível na Revista Contabilidade, Gestão e Governança através do link: https://www.revistacgg.org/index.php/contabil/article/view/3360
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