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Missa marca trigésimo dia da morte de Gilberto Nassif.

Missa celebrada hoje, às 19h, na igreja Cristo Rei, em Curitiba, marca o trigésimo dia da morte do ex-conselheiro do CRCPR Gilberto Nassif, falecido no último dia 24 de dezembro, deixando um vasto legado junto à classe contábil paranaense.

Curitibano, nascido em 1931, Nassif começou a trabalhar em escritório em 1948, ingressando no Conselho Regional de Contabilidade do Paraná em 1966, onde atuou como primeiro e único fiscal. Em 1990, iniciou seu trabalho como conselheiro do CRCPR permanecendo na função até o final de 2008, quando caiu gravemente enfermo. Foram 42 anos de convivência com os problemas e as pessoas ligadas à classe contábil, tendo acompanhado o estágio primordial de estruturação e interiorização do conselho, desenvolveu um trabalho constante de orientação aos contabilistas por sua longa atuação como vogal na Junta Comercial do Paraná. ?Seu Gilbertinho?, como era chamado pelos amigos, sempre demonstrou grande preocupação com a classe. Para ele, um dos momentos mais marcantes da classe foi quando, na década de 80, o CRCPR começou a ofertar aos contabilistas formação complementar à escola, por meio de cursos e palestras, o que hoje é entendido por ?educação continuada?.

Confira abaixo entrevista à revista do CRCPR, publicada em julho de 2000

Revista do CRCPR - O que mudou desde que o Sr. começou sua carreira contábil?

Gilberto ? Mudou quase tudo?

Revista ? No que diz respeito ao CRCPR?

Gilberto ? O sistema CFC/CRCs foi instituído em 1946. Teoricamente, o CRCPR existiu desde esse ano, mas na prática só foi estruturado a partir da década de 60. Participei de toda essa fase inicial. A primeira sede era na Rua Barão do Rio Branco. Em seguida, foi adquirida a sede própria na Rua Monsenhor Celso. Eram nove conselheiros e sete funcionários, em 1965.

Revista ? Como foi a interiorização do Conselho?

Gilberto ? Isso foi acontecendo na medida em que o estado ia se desenvolvendo economicamente, as cidades crescendo? Em meados dos anos 60 já funcionavam delegacias do Conselho em Ponta Grossa, Londrina, Paranaguá e Maringá.

Revista ? Como o Conselho fazia seu trabalho de fiscalização?

Gilberto ? Com muita dificuldade. Eu só comecei a participar da vida do CRCPR em 1966 quando fiz concurso para fiscal e fui contratado. Fui o primeiro e era o único. Desde 1948, no entanto, eu já estava envolvido com a contabilidade, trabalhando em escritórios; me formei em 53 na Escola Técnica de Comércio da UFPR. Quando comecei a fazer a fiscalização do CRCPR havia poucas estradas. Empurrei muito ônibus em barro; e cansei de dormir dentro de ônibus encalhado. A fiscalização consistia em visitar os profissionais nas cidades e falar do papel do Conselho. Muitos nem sabiam que este existia.

Revista ? Para se comunicar então não era fácil?

Gilberto ? Nem fale! Muitas vezes quando eu estava no interior e precisava falar urgente com Curitiba, a primeira barreira era encontrar um telefone; depois, fazer a ligação? A operação começava pela manhã e só terminava à noite. Minhas viagens duravam 15, 20 ou mais dias.

Revista ? E como era lidar com os profissionais naquela época?

Gilberto ? A maioria não era formada em curso contábil. A maior parte dos donos de escritórios era leiga. Também, quase não havia escolas!

Revista ? Eram muitos profissionais?

Gilberto ? Quando iniciei a fiscalização já existiam cerca de sete mil profissionais registrados no estado. Hoje são cerca de 43 mil, sendo a metade de profissionais ativos.

Revista ? Quanto à prática contábil, era complicada?

Gilberto ? De certo modo, menos que hoje. Contabilidade reduzia-se quase a débito e crédito. Não havia tantas leis e regras. A execução dos serviços sim era mais complicada. Os livros contábeis eram manuscritos. Era preciso ter letra boa. Alguns documentos eram datilografados em várias vias com carbono. Não se podia errar. O computador facilitou tudo.

Revista ? Os profissionais cometiam muitas irregularidades?

Gilberto ? Havia muitos práticos, mas esses foram se formando. Os casos mais graves eram os de profissionais ? geralmente leigos ? que pegavam dinheiro dos clientes para pagar impostos ou Previdência e sumiam. Ainda hoje acontece isso, mas em menor escala. A deslealdade era menor. Havia poucos profissionais. A concorrência foi acabando com os princípios de respeito mútuo.

Revista ? Quais foram os momentos marcantes do CRCPR durante sua passagem por ele?

Gilberto ? A primeira fase do CRCPR que considero importante foi aquela em que ele se fez conhecer, ficando compreendido que ele foi criado para defender a classe contábil, que esta precisava se organizar. Ficou evidente a necessidade do registro e da fiscalização. Outro momento importante foi a criação do Departamento Jurídico. Os processos ganharam seriedade e respeito. Finalmente, marcante também foi a oferta de formação complementar à escola, por meio de cursos, palestras, etc, a partir dos anos 80. Não se atualiza o profissional que não quer.

Revista ? Disseram que a profissão contábil seria extinta, mas dizem também que ela é a profissão do III milênio. O que o Sr. acha?

Gilberto ? É bobagem pensar que as novas tecnologias (o computador principalmente) vão dispensar o profissional de contabilidade. Ferramentas de trabalho sempre mudaram em todas as atividades. O que elas estão fazendo, no nosso caso, é reduzir a mão-de-obra. Os escritórios contábeis modernos funcionam com um mínimo de funcionários. Mas, convenhamos: programas de computador têm de ser alimentados. Depois, estão surgindo novos serviços que só podem ser feitos por contabilistas bem preparados e capazes de participar mais ativamente da vida das empresas e organizações.

Revista ? Quais são os principais problemas da classe contábil, hoje?

Gilberto ? As estruturas de governo são o espinho que mais nos machuca. Governos fazem e derrubam leis, mudam regras da noite para o dia. Não consultam ninguém. Isso atrapalha nosso trabalho e o de muitos outros. É verdade que as coisas estão mudando! A reforma tributária é um exemplo. A classe contábil está participando da formulação dela. Resta saber apenas se ela vai sair um dia...

Revista ? Qual é sua mensagem para os novos contabilistas?

Gilberto ? Meu conselho para os contabilistas novos é que não se limitem a fazer os serviços contábeis, ficando fechados nos escritórios, mas continuem estudando, se atualizando; e que tenham interesse pela situação geral das empresas de seus clientes, e também se interessem pela comunidade, procurando saber de seus problemas, buscando soluções.