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Artigo do Prof. Dr. Iago França Lopes, coordenador da Comissão CRCPR Diversidade e Inclusão

Falar de Consciência Negra em 2023 é aprender a ler o mundo novamente. Precisamos refletir sobre onde estão os mais de 56,1%* dos brasileiros que se identificam como negros e negras. Precisamos fazer uma leitura de quais lugares esses corpos ocupam. Nas universidades públicas, por exemplo, apenas 16% dos corpos dos docentes são pretos (IPEA, 2017). Ainda, a maioria de negros e negras encontram-se nos serviços tidos no Brasil como subemprego, sem falar da remuneração que esses corpos recebem. 

Assim, quando reconhecemos esse cenário, é preciso mensurar e divulgar esses números, de modo que políticas de acesso sejam elementos cada vez mais presentes na nossa sociedade e nas organizações, com o propósito de reverter esse quadro e que, de modo contundente, exista um caminho para falarmos de inclusão e diversidade. 

Falar de Consciência Negra é não esquecer um passado produzido por um sistema social dominante que, sistematicamente, desvalorizou os corpos pretos, então escravizados e mantidos em condições de desumanidades. 

A contabilidade foi um instrumento a serviço do sistema, que contribuiu para mensurar a "validade" e os "valores justos" dos negros escravizados no Brasil. É preciso olhar esse passado e corrigir essas desumanidades. É um dever coletivo e, em especial, da branquitude, que se beneficia desse sistema social desde que o primeiro homem que veio de Portugal pisou em terras brasileiras. 

Falar de Consciência Negra é falar de mudanças de hábitos. Sim! Temos muitos hábitos que ainda reverberam a senzala. Ainda existem muitas senzalas contemporâneas:

As nossas periferias, sem acesso! 

As nossas mães negras que ainda moram no quartinho da empregada nos bairros privilegiados das nossas metrópoles e nas grandes propriedades do Brasil profundo! 

O estudante e o trabalhador que ainda são confundidos com bandidos! 

A falta de acesso dos negros e negras aos cargos de liderança em empresas. 

Precisamos acabar com as senzalas contemporâneas e regatar a humanidade das pessoas negras que fazem esse Brasil. Falar de Consciência Negra é Ser Humano! Repito: Ser Humano!"

* Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE