ESPAÇO DA COMISSÃO CRCPR ENSINO PARA DIVULGAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS PUBLICADOS EM PERIÓDICOS DO SEGMENTO
"A presença de mulheres em conselhos de administração é um tema em ascensão nas discussões sobre governança e responsabilidade social corporativa. Mas será que atingir uma ´massa crítica´ feminina — ou seja, ter pelo menos três mulheres no conselho — é suficiente para impulsionar a divulgação de informações de responsabilidade social nas maiores empresas brasileiras? Essa foi a questão central investigada por Rayane Farias dos Santos, Isabelle Caroline Bevilaqua, Francisco José da Silva Júnior e Mourtala Issifou, em pesquisa publicada na Revista Enfoque: Reflexão Contábil.
O estudo analisou 34 empresas brasileiras do Índice Brasil 50 (IBrX 50) da B3, com base nos Relatórios Anuais, de Sustentabilidade e Relato Integrado divulgados entre 2017 e 2019. Os pesquisadores criaram um índice de divulgação de responsabilidade social corporativa (RSC) fundamentado nas diretrizes da ABNT NBR ISO 26000, avaliando a presença de uma massa crítica de mulheres no conselho e outros fatores de controle, como tamanho da empresa, desempenho financeiro, participação no ISE e setor de atuação.
Os resultados desafiaram parte da literatura internacional. Embora estudos anteriores apontem que conselhos mais diversos tendem a favorecer a transparência e o engajamento social, a análise das empresas brasileiras revelou que a presença de uma massa crítica de mulheres no conselho não teve efeito estatisticamente significativo sobre o nível de divulgação de informações de responsabilidade social. A média de divulgação dos itens previstos na ISO 26000 foi de 70%, com grande variação entre as empresas — cinco delas mantiveram a massa crítica feminina durante todo o período, enquanto seis não tinham sequer uma mulher no conselho.
O modelo econométrico adotado também mostrou que, entre as variáveis analisadas, somente o desempenho financeiro (ROA) e o setor de atuação apresentaram alguma relação significativa com o índice de divulgação de responsabilidade social, ao contrário da composição de gênero do conselho. Esse resultado sugere que, no contexto brasileiro, o incentivo à divulgação de práticas sociais vai além do simples cumprimento de cotas de gênero e pode envolver outros fatores institucionais, culturais e estratégicos.
Os autores ressaltam que o avanço da participação feminina em conselhos permanece relevante para o debate sobre igualdade de oportunidades, mas alertam para a necessidade de políticas que considerem a diversidade como um aspecto multifacetado, não restrito à mera presença numérica. A pesquisa aponta ainda limitações, como a amostra reduzida, a especificidade do recorte temporal e a necessidade de explorar outras variáveis explicativas em estudos futuros."
Conheça o estudo na íntegra
O artigo completo está disponível na Revista Enfoque: Reflexão Contábil através do link: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Enfoque/article/view/65416/751375159089
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