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No dia 11 de julho, a TV CRCPR transmitirá uma live sobre o tema “ESG: a Evolução do Relatório Corporativo”, contando com renomados palestrantes: Vania Maria da Costa Borgeth (currículo), vice-coordenadora do Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS) e diretora do International Ethics Standards Board for Accountants (IESBA); e Zulmir Ivânio Breda (currículo), coordenador operacional do CBPS, ex-presidente e membro do Conselho Consultivo do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). O evento terá ainda, como mediador, o vice-presidente de Desenvolvimento Profissional do CRCPR, Laudelino Jochem

Na oportunidade, os especialistas discutirão sobre o papel do contador na elaboração dos relatórios na agenda ESG (Environmental, Social and Governance), além da preparação e dos desafios para se adotar um padrão global de divulgação de sustentabilidade.

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Confira a seguir entrevista com os palestrantes Vania Maria da Costa Borgeth e Zulmir Ivânio Breda!

Zulmir Ivânio Breda, coordenador operacional do CBPS, ex-presidente e membro do Conselho Consultivo do CFC


CRCPR Online: Quais são os benefícios de longo prazo para as empresas que adotam práticas robustas de ESG?

Zulmir Ivânio Breda (ZIB): As empresas comprometidas com a agenda da sustentabilidade ambiental, social e de governança, terão vários benefícios comparativos, tais como a maior facilidade de acesso a capitais, financiamentos com taxas diferenciadas, menor risco de desconformidade regulatória, maior capacidade de atratividade e retenção de mão de obra, melhor visibilidade perante seus clientes, entre outras, resultando em maior valorização dessas empresas no mercado, atraindo assim mais investimentos. Além disso, precisamos considerar que os órgãos reguladores já estão exigindo a divulgação dessas informações por parte as empresas, inicialmente as maiores, para que os investidores possam conhecer efetivamente o quanto cada organização está efetivamente comprometida com essa agenda.

CRCPR Online: Como o Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS), o qual integra, está contribuindo para o desenvolvimento de normas e padrões de ESG no Brasil? 

ZIB: O papel do CBPS é promover o estudo, preparo e a emissão de documentos técnicos sobre padrões de divulgação sobre sustentabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pelas entidades reguladoras brasileiras, levando sempre em consideração os padrões emitidos pelo International Sustainability Standard Board (ISSB). Assim, os órgãos reguladores brasileiros, como o CFC, CVM, BCB, SUSEP, PREVIC e as agências reguladoras setoriais, poderão baixar seus normativos exigindo a observância dessas normas pelas empresas sob sua respectiva supervisão. É um trabalho semelhante ao realizado, desde 2005, pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), que possibilitou a introdução do modelo de contabilidade internacional do IASB. Portanto, com o trabalho do CBPS, internalizaremos no Brasil um conjunto de normas internacionais de divulgação de informações sobre sustentabilidade, que possibilitarão mais informações aos investidores, credores, acionistas e demais partes interessadas, sobre os compromissos de cada empresa com sua sustentabilidade ambiental, social e de governança, no médio e longo prazo.


CRCPR Online: Como sua vasta experiência na área governamental influenciou sua visão sobre a contabilidade e os relatórios de ESG?

ZIB: A administração pública tem, por natureza, uma ligação estreita com as questões sociais e ambientais, por caber a ela gerenciar essas áreas, seja no âmbito de um município, de um estado ou da própria União Federal. Trabalhando na gestão pública, pude conhecer de perto quais são as regulações existentes e os projetos de governo para essas áreas. Mas, é claro, que o poder público não tem capacidade para resolver todas as demandas da comunidade em temas tão sensíveis e relevantes. Existe, portanto, a necessidade de as empresas e o terceiro setor colaborarem com sua parte nesse processo. Para tanto, no início dos anos 2000, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul (RS) criou, por meio da Lei Estadual 11.440/2000, o Prêmio de Responsabilidade Social, com o objetivo de incentivar a realização de projetos voltados ao bem-estar social e à preservação do meio ambiente, por parte das empresas e organizações do terceiro setor do RS. Tive o privilégio de participar, durante alguns anos, representando o CRCRS, da comissão mista encarregada de elaborar o edital contendo a metodologia de análise dos projetos, bem como do modelo de balanço social instituído para possibilitar a comparação entre as empresas, para fins de premiação. Era exigida a assinatura de um profissional da contabilidade no balanço social.  Foi uma experiência única, pois fazíamos toda a análise dos projetos, bem como dos balanços sociais apresentados, além de fazer visitas às empresas finalistas para confirmar a veracidade das informações, bem como os resultados de cada projeto apresentado. A cerimônia de premiação era muito concorrida, pois o prêmio era almejado pelas empresas como um selo de reconhecimento público de seu comprometimento com os aspectos sociais e ambientais. Essa experiência me permitiu aproximação com o assunto e sua relação com a contabilidade. Na sequência, em 2004, o CFC editou a Norma NBC-T15 sobre informações de natureza social e ambiental, trazendo uma orientação clara sobre as informações que as empresas deveriam disponibilizar sobre esses temas, e consolidando a necessidade de assinatura de um profissional da contabilidade sobre as informações prestadas. Desde então, o tema da sustentabilidade em termos sociais e ambientais foi se consolidando no meio empresarial, motivado também pela regulação de organismos internacionais que começaram a estabelecer padrões de divulgações a esse respeito.  

CRCPR Online: Como as novas tecnologias, como a inteligência artificial e a big data, podem influenciar a forma como os relatórios de ESG são preparados e analisados, e a forma como os profissionais contábeis trabalham com estas informações?

ZIB: As ferramentas de informática, especialmente aquelas equipadas com a chamada inteligência artificial, já estão contribuindo na elaboração das informações relacionadas à sustentabilidade das empresas, principalmente em questões mais complexas, que exigem métricas e cálculos avançados, como no caso das aferições de emissões de gases de efeito estufa. A quantidade de dados e informações a serem preparadas para a composição e análise dos relatórios de sustentabilidade exigirá, por certo, o uso de ferramentas avançadas de informática para sua execução. As próprias empresas de auditoria já estão se preparando para introduzir ferramentas de IA na sua rotina de análise de informações e relatórios de sustentabilidade, conforme noticiado recentemente pela mídia global. Portanto, temos que nos preparar para conhecer e utilizar todas as ferramentas que estiverem disponíveis ao nosso acesso e aplicá-las em benefício do nosso trabalho,  atribuindo maior qualidade, confiabilidade, rapidez e assertividade nas informações que produzirmos. 



CRCPR Online: Quais são os principais desafios que as empresas e os profissionais contábeis enfrentam ao incorporar ESG em seus relatórios?

Vania Maria da Costa Borgeth (VMCB): É a necessidade de entender a norma e buscar estabelecer a relação que os fatores ESG têm sobre os elementos patrimoniais, a fim de construir controles internos que permitam o monitoramento e a asseguração da informação ESG, usando as Demonstrações Contábeis como base. Treinamento é fundamental.

CRCPR Online: Como integrante das Relações Internacionais do CBPS e do IESBA, acredita que existem lições ou práticas internacionais que poderiam ser adaptadas e implementadas no Brasil para melhorar os relatórios de ESG?

VMCB: O reporte formal de informação ESG está começando com as IFRS S1 e S2. Não temos um país ou experiência internacional para utilizar como base, apenas as normas propriamente ditas. Caberá ao Brasil, como um dos primeiros países do mundo a usar a norma, construir estes modelos e experiências que o resto do mundo irá utilizar. Mas as normas de divulgação de informação ESG se baseiam em um tripé internacional: (i) o relatório propriamente dito, que terá as normas IFRS S1 e S2 como base (e as futuras S3, S4, etc.) e, no caso europeu, a base será as IFRS "S", mais a diretiva de reporte de sustentabilidade (CSRD); (ii) asseguração, através da norma de auditoria de informações de sustentabilidade que será aprovada pelo International Auditing and Assurance Standards Board (IAASB); e, (iii) princípios éticos fundamentais, do Código de Ética do IESBA, que será aprovado em dezembro de 2024. Aí sim, o Brasil poderá se beneficiar da experiência destes gigantes da normatização de reportes e asseguração, o que resultará em normas principiológicas e adequadas para a correta apresentação do efeito das questões de sustentabilidade sobre a situação patrimonial das entidades, retratando tanto os riscos quanto as oportunidades.

Vania Maria da Costa Borgeth (currículo), vice-coordenadora do CBPS e diretora do IESBA


 CRCPR Online: Que habilidades e conhecimentos adicionais acredita que os contadores precisam desenvolver para se adequar às demandas de ESG?

VMCB: A habilidade de escutar, a paciência de ensinar e o talento para mensurar adequadamente os elementos materialmente relevantes. Precisaremos ter bastante diálogo com os diversos especialistas que fornecerão informação de natureza ambiental, direitos humanos e governança, pois caberá ao contador traduzir o trabalho de tais especialistas em impactos mensuráveis. A tecnologia pode ser uma grande ferramenta para esta atividade, pois o contador precisará traçar cenários que atestem a resiliência da empresa aos riscos identificados. O conhecimento tecnológico também irá contribuir para o monitoramento da cadeia de valor para o reporte em escopo 3. 

CRCPR Online: Quais tendências prevê para o futuro dos relatórios corporativos e o papel dos contadores em ESG nos próximos anos?

VMCB: O contador é fundamental. Como comentei, ele atuará como catalisador que traduz o trabalho dos especialistas em efeitos patrimoniais. Com o apoio do contador e sua comprovada experiência em reportar corporações, podemos acelerar o aprimoramento das metodologias de reporte de informação ASG.

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