O professor universitário da área de Ciências Contábeis da Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO), Iago França Lopes, é o coordenador da nova Comissão de Diversidade e Inclusão Profissional do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná (CRCPR). Lopes é doutor em Contabilidade, editor adjunto da Revista Evidenciação Contábil & Finanças e membro do grupo Coletivo Contábil de Inclusão e Diversidade (COLID).
A primeira reunião da Comissão aconteceu na manhã do dia 19 de abril, com a presença do presidente do CRCPR, Laudelino Jochem, do vice-presidente de Administração e Finanças, Everson Breda Carlin, da coordenadora geral das comissões, Ariane Yumi de Almeida Rocha, do diretor superintendente, Gerson Borges de Macedo, e do gerente operacional, Maurício Ostrowski Júnior (para saber mais, clique aqui!).
Nesta entrevista, Iago conta um pouco sobre a formação da nova comissão, os desafios e alguns projetos que podem ser propostos ao longo do ano de 2022.
Boletim CRCPR Online: Como você recebeu o convite do presidente Laudelino Jochem para liderar a comissão?
Iago França Lopes: Eu cheguei no CRCPR por uma ponte realizada pela Isabel Xavier e pela Daniela Novak, que faziam parte de comissões dentro do Conselho. Esta aproximação foi realizada principalmente em função de que o COLID, no período das eleições para os conselhos regionais de contabilidade, realizou provocações junto a chapas que concorriam nas eleições, no sentido de entender melhor qual era a posição dos conselhos em relação à diversidade e se efetivamente existia espaço para essa discussão. Diante deste cenário, fomos muito bem recebidos pela chapa que estava concorrendo nas eleições para assumir o CRCPR na gestão de 2022 e 2023. O objetivo maior era, e é, despertar o interesse pela temática, para a criação de um espaço de segurança e liberdade para a comunidade LGBTQIA+ pertencente à contabilidade. Assim, após as eleições, fui convidado pelo presidente Laudelino para uma reunião. O presidente foi muito gentil, demonstrou interesse na causa e sinalizou a possibilidade para criação da comissão. Após esse primeiro encontro, veio efetivamente o convite para liderar o grupo. Foi uma surpresa boa e é um desafio na minha carreira profissional e na minha vida também. Precisamos entender o quão importante é esse momento para contabilidade no Estado do Paraná e no Brasil, bem como para as pessoas LGBTQIA+ que querem ocupar os espaços contábeis. E esse ocupar é no sentido de permanência, é no sentido de liberdade para que cada um possa expressar quem realmente é. É no sentido de viver com mais alegria, de poder performar seu verdadeiro eu.
Boletim CRCPR Online: Quais são os principais pontos de discussão da área de trabalho desta comissão?
IFL: Os principais pontos de discussão da área de trabalho são sobre a necessidade de criar um espaço para receber os corpos LGBTQIA+ na contabilidade. As nossas discussões devem estar pautadas na necessidade de aprendermos a cada dia a receber a diversidade como elemento participante dos espaços, em especial dos espaços contábeis. Acolher, entender, permitir, garantir, assegurar e respeitar as pessoas como elas são, nas suas essências, nas suas individualidades, para que possamos performar nossas competências e habilidades contábeis também. Um outro ponto é criar um diálogo entre gênero, raça e contabilidade. Eu e meu amigo, João Paulo Resende, apontamos em um trabalho publicado na Revista Contabilidade e Inovação que esse processo “é uma forma de mitigar as vozes que apontam para a qualificação dos corpos LGBTQIA+ antes mesmo deles falarem. Aqui a ideia é quebrar a rotulação dos corpos LGBTQIA+ quando estes são identificados como atuantes na moda, atuantes no teatro, nos salões de beleza, entre outros espaços que são mais receptivos aos corpos LGBTQIA+" (Lopes & Resende, 2022, p. 28). Essa citação não menospreza os espaços exemplificados. Ao contrário, é uma forma de resgatar essa possibilidade de receptividade também nos ambientes contábeis e sinalizar que o lugar de um LGBTQIA+ é onde ele quiser estar. É sobre esse processo que se precisa questionar as desigualdades de gênero e raça na contabilidade.
Boletim CRCPR Online: Qual acredita que será o foco desta comissão nestes primeiros anos? Poderia antecipar alguns planos da comissão para o biênio 2022-2023?
IFL: Na primeira reunião, já percebi que os integrantes possuem muita vontade de contribuir e trabalhar, o que vai ser ótimo para a nossa comissão. Assim, já saímos da primeira reunião com uma perspectiva de realizar uma live de apresentação à comunidade contábil. Outro ponto que entrou em pauta foi a inclusão do nome social na carteira do profissional da contabilidade. Além disso, estamos falando do processo de capacitação sobre diversidade, igualdade e valorização profissional de uma forma geral.
Boletim CRCPR Online: Gostaria de acrescentar algum outro ponto que não tenhamos abordado?
IFL: Mais importante de tudo é sinalizar que não vou trabalhar sozinho. Esta comissão é composta pelo Fabian Algarte da Silva, pela Juh Círico, pela Lisiane Bazzo, pela Rosineide Alves, pelo Bento Rosa Junior e pelo João Victor Lucas. Assim, cada integrante, dentro das suas histórias de dores, amores e sabores tem o potencial de contribuir efetivamente para a construção de uma comissão para fazer história junto ao CRCPR. Além disso, contamos com o apoio da funcionária Jeruza Fernandes Moura Burges, que se mostrou pronta a ajudar, bem como com todo o CRCPR. Assim, acredito que as possibilidades de trabalho são inúmeras. Estou muito feliz em participar deste movimento junto ao CRCPR. Agradeço a confiança e espero responder a altura. Quero encerrar com uma frase da Judith Butler, que afirma que “seja qual for a liberdade pela qual lutamos, deve ser uma liberdade baseada na igualdade”.
Reprodução permitida, desde que citada a fonte.