Parte da programação do X Encontro Nacional da Mulher Contabilista (ENMC), o painel “O novo mercado para a área contábil: como se manter nesse mercado competitivo” foi realizado neste dia 13, às 16 horas, sob a coordenação do presidente da Fenacon, Mário Elmir Berti. Os painelistas foram Lucelia Lecheta, presidente do CRCPR; Ernani Ott, presidente da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Contabilidade (Anpcont); Olivia Kirtley, presidente da Federação Internacional de Contadores (Ifac, na sigla em inglês); e Jennifer Thomson, oficial de Gerenciamento Financeiro do Banco Mundial.
Da esq. para a dir.: Jennifer Thomson, Ernani Ott, Mário Elmir Berti, Lucelia Lecheta e Olivia Kirtley
Olivia Kirtley
Primeira mulher a assumir a Presidência da Ifac, em novembro de 2014, Olivia Kirtley falou sobre alguns pontos importantes para a profissão em âmbito internacional. “Precisamos formar companhias fortes que, dessa forma, fortalecemos a economia dos países”, afirmou.
Ela discorreu especialmente sobre a importância dos Relatórios Integrados (RI) para a boa governança das companhias. O RI é uma iniciativa do International Integrated Reporting Council (IIRC), hoje utilizada por vários de países, que visa auxiliar as empresas a estabelecerem o pensamento integrado na gestão e na comunicação dos resultados, unindo informações não financeiras, sociais e ambientais, aos relatórios contábeis.
“O RI é utilizado atualmente por dezenas de organizações, e é importante que os profissionais da Contabilidade estejam preparados para utilizar o Relato Integrado e para orientar os seus clientes sobre a importância dessa ferramenta de governança”, destacou a presidente da Ifac.
Olivia também falou a respeito da relevância de se atrair novos talentos para a contabilidade. “Precisamos garantir que a nossa carreira seja atraente aos jovens”. A tecnologia foi outro tema abordado por ela, que recomendou aos profissionais que aconselhem os seus clientes para o suo das novas tecnologias. “É preciso ajudar a impulsionar os negócios dos clientes”, completou.
A presidente da Ifac falou ainda sobre educação continuada. “Isso é crucial para manter a competência técnica e o profissionalismo. À medida que o mundo muda, as nossas habilidades também devem mudar”, argumentou.
Jennifer Thomson
A especialista de Gerenciamento do Banco Mundial, Jennifer Thomson, discorreu sobre o trabalho desenvolvido pelo Banco Mundial, lembrando que a instituição foi fundada, após a Segunda Guerra Mundial, com a finalidade de ajudar na reconstrução dos países destruídos pela guerra. “As metas do Banco Mundial são erradicar a extrema pobreza e estimular a prosperidade compartilhada”, afirmou. No entanto, ela admitiu que a distância entre os ricos e os pobres está ficando cada vez maior.
“Todas as nações sofrem com esse problema, mas o que isso tem a ver com a contabilidade?”, questionou Jennifer. Ela explicou que, como há necessidade de os países tomarem empréstimos, o papel dos profissionais da área é essencial para saber se cada dólar foi utilizado realmente para o desenvolvimento dessas nações.
Jennifer citou também uma pesquisa que o Banco Mundial desenvolve em vários países, incluindo-se o Brasil, na qual são analisados aspectos da área contábil. Trata-se do Relatório sobre a Observância de Normas e Códigos: Contabilidade e Auditoria (ROSC).
“Fizemos esse estudo em mais de 136 países e geramos o ROSC. No Brasil, o Relatório se refere aos anos de 2012 e 2013, dando uma visão geral da área de contabilidade e auditoria”, informa a especialista do Banco Mundial.
Ernani Ott
No painel, a abordagem do tema sob o aspecto acadêmico, coube ao professor Ernani Ott, presidente da Associação Nacional de Programas de Pós-graduação em Ciências Contábeis (Anpcont).
Citando sua experiência de 46 anos de atividade acadêmica, ele foi enfático ao afirmar que é preciso ter conhecimento. “A contabilidade, enquanto ciência social aplicada, interage com a sociedade, acompanhando as suas evoluções. Hoje, a contabilidade se internacionalizou, a complexidade dos negócios se tornou bastante acentuada e a competição no mercado de trabalho passou a ser intensa”.
Para o professor Ernani Ott, as mudanças que atingiram a área contábil representam são um grande desafio e, praticamente, “empurram” os profissionais para a educação continuada. Por isso, ele defende a importância de se trilhar, após a graduação em Ciências Contábeis, cursos de pós-graduação lato sensu – especialização ou MBAs – e stricto sensu – mestrado acadêmico ou profissional e doutorado.
O presidente da Anpcont informou que há atualmente, no Brasil, cerca de 1100 cursos de Ciências Contábeis. Em 2012, as graduações somavam 313 mil estudantes, número que hoje está em torno de 420 mil. “Houve um crescimento quantitativo de cursos, mas agora precisamos do crescimento qualitativo nas graduações”.
Em relação aos cursos de mestrados, o professor citou que, no país, o primeiro curso surgiu apenas em 1970, na Universidade de São Paulo. Atualmente, há 26 programas de mestrado, sendo 23 acadêmicos e três profissionais.
Quanto ao doutorado em Contabilidade, nível de pós-graduação em que há maior sedimento teórico, hoje há 12 programas no Brasil.
“O impulso maior na criação dos cursos de mestrado e de doutorado surgiu a partir da criação da Anpcont, em 2006”. Porém, os números de programas de pós-graduação ainda são tímidos: “Temos menos de 1% de doutores atuando na formação de bacharéis em Ciências Contábeis”.
Lucelia Lecheta
A participação da presidente do CRCPR, Lucelia Lecheta, no painel, teve um aspecto prático, focando nas principais questões que os contabilistas têm levado ao Conselho Regional: as novas tecnologias, novos modelos de negócios que oferecem serviços contábeis pela Internet, o surgimento de franquias de serviços contábeis e a fusão de pequenos escritórios como meio de fortalecimento e sobrevivência da atividade.
“Estamos deixando para trás a era dos escritórios e entrando de vez na das empresas contábeis. O típico escritório de antigamente era feio e cheio de papéis. Hoje já há empresas em que as salas de reuniões têm pufes no lugar de cadeiras e mesas, a exemplo do que acontece no Google. No entanto, apenas 11% das empresas de contabilidade no Brasil possuem algum tipo de processo formal de gestão da qualidade dos serviços”.
Esses números, segundo Lucelia, demonstram que as empresas do segmento que querem se manter competitivas ainda têm um longo caminho a percorrer.
Quanto aos novos modelos de empresas contábeis, com serviços online de baixo custo, ela ponderou que esses empreendedores encontraram um modo de trabalho que lhes permite trabalhar dentro da legalidade e que, talvez, seja o momento de o mercado olhar esses novos modelos mais de perto, vendo o que é possível aproveitar e que práticas podem ser incorporadas ao dia a dia das empresas tradicionais. Ainda, Lucelia destacou que “as empresas que oferecem o binômio ‘inteligência contábil e qualidade na prestação de serviços’ não têm com o que se preocupar, pois isso não pode ser substituído pela máquina”.
Outra novidade abordada por ela foram as franquias de serviços contábeis, que podem tanto ser uma oportunidade para empresas mais estruturadas, que ao se tornarem franqueadoras podem impulsionar seu crescimento, como para empresas menores, que podem se profissionalizar e expandir sua atuação, tornando-se franquias.
A presidente do CRCPR encerrou sua fala alertando para a questão do tamanho versus lucratividade, explicando que ela tem visto muitas empresas de pequeno porte que cuidam da sua contabilidade tão bem quanto o fazem com as de seus clientes e, dessa forma, conseguem ser mais lucrativas do que outras de maior porte, que acabam negligenciando seus próprios números.