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Artigo do presidente do CRCPR, Everson Breda Carlin

As práticas ESG* (Ambientais, Sociais e de Governança) devem ganhar cada vez mais destaque no mundo corporativo e, por consequência, abrirão um grande leque de oportunidades para toda a nossa classe profissional. 

Vivemos em uma era em que a cultura sustentável não é apenas uma opção, mas uma necessidade premente que se estende além das fronteiras corporativas, alcançando toda a sociedade. Aliás, esse crescente destaque se deve, em grande parte, à cobrança cada vez maior da sociedade por posturas mais éticas e sustentáveis por parte das empresas, governos e entidades.

O empreendedor contábil, cada vez mais reconhecido pelas organizações como essencial para o bom desempenho das empresas e para o crescimento econômico, tem diante de si uma nova e promissora vertente de atuação: a prestação de consultoria para implementação de normas e condutas relacionadas a ESG, orientando especialmente as médias e pequenas empresas a incorporarem práticas sustentáveis em sua essência.


Vejo isso como uma oportunidade única para os empresários contábeis não apenas se manterem atualizados, mas também liderarem essa transformação em suas comunidades, pois, segundo dados do Sebrae e do Caged, as Pequenas e Médias Empresas (PMEs) respondem por mais da metade dos empregos do Brasil e foram responsáveis por mais de 80% das novas vagas geradas ao longo do segundo semestre de 2023. E sabemos que as boas práticas aprendidas nas empresas têm grande potencial de multiplicação no seio das famílias. Portanto, vejo a contabilidade se tornando um pilar fundamental para impulsionar a difusão da cultura da sustentabilidade em nosso país. 

Não é por acaso que os organismos internacionais de regulamentação da profissão contábil vêm se debruçando sobre como refletir na contabilidade das empresas o valor gerado pelas adoções de práticas sustentáveis. Os primeiros resultados desse trabalho são as recentes publicações dos Padrões de Divulgação de Sustentabilidade pelo International Financial Reporting Standards (IFRS)** S1 e S2. Essas normas representam uma mudança significativa para as companhias de capital aberto, com potencial para impactar todas as outras em um curto espaço de tempo, conectando o relato de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade diretamente com as demonstrações financeiras. Estabelecidas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB)***, essas normas têm como objetivo aprimorar a transparência, fornecendo aos investidores informações cruciais sobre a exposição da empresa a riscos e oportunidades associados à sustentabilidade.

A Resolução CVM nº 193/2023, emitida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 23 de outubro de 2023, estipula que companhias abertas, fundos de investimento e companhias securitizadoras têm a opção voluntária de divulgar relatórios de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade para os exercícios sociais iniciados em, ou após, 1º de janeiro de 2024. No entanto, para as companhias abertas, torna-se obrigatória a elaboração e divulgação desses relatórios a partir do exercício social iniciado em, ou após, 1º de janeiro de 2026. Esse movimento logo vai chegar às PMEs e o empresário contábil que sair na frente, aprofundando seus conhecimento sobre ESG, vai sair na frente quando os clientes tiverem que colocar essas normas em prática.

A sustentabilidade não deve ser apenas um rótulo vazio, mas um diferencial sólido que fortalece não apenas a reputação, mas também a saúde financeira e econômica das empresas. Ao estabelecer parâmetros de atribuição de valor e de reporte, essas novas normas contábeis também proporcionarão significativos avanços em conter o greenwashing****, práticas superficiais adotadas por muitas corporações que trabalham apenas a aparência “verde” das atividades, mas que não passam do discurso à prática. Nesse contexto, os empresários contábeis são chamados a serem os guardiões da integridade, garantindo que as práticas sustentáveis se traduzam em ações reais, evitando armadilhas de superficialidade.

O desafio é real, mas as oportunidades são igualmente grandiosas. Ao abraçarmos a cultura sustentável, não apenas contribuímos para um futuro melhor, mas também posicionamos nossas empresas e comunidades para prosperar de maneira equilibrada e duradoura. 



ESG*: ESG é uma sigla que provém do inglês e representa três elementos fundamentais nas práticas de responsabilidade social e sustentabilidade corporativa: Ambiental (Environmental), Social (Social) e Governança (Governance). Esses elementos estão intrinsicamente ligados à contabilidade, pois os contadores desempenham um papel vital no acompanhamento e na divulgação das métricas financeiras e não financeiras que formam a base dos critérios ESG.

IFRS**: O IFRS, sigla para International Financial Reporting Standards (Normas Internacionais de Relato Financeiro, em português), é um conjunto global de padrões contábeis utilizado para a elaboração de demonstrações financeiras por empresas. Esses padrões visam garantir consistência, comparabilidade e transparência nas informações contábeis, facilitando a compreensão e análise das finanças de empresas que operam em diferentes partes do mundo. O IFRS é desenvolvido e mantido pelo International Accounting Standards Board - IASB (Conselho de Normas Contábeis Internacionais, em português), contribuindo para a padronização e harmonização das práticas contábeis internacionais.

ISSB***: O ISSB, ou International Sustainability Standards Board (Conselho Internacional de Normas de Sustentabilidade, em português), é uma entidade responsável pelo desenvolvimento e estabelecimento de normas internacionais para relatórios de sustentabilidade. Essas normas visam promover a transparência e consistência nas divulgações relacionadas às práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) das empresas.

Greenwashing****: Greenwashing é uma prática na qual uma empresa, organização ou produto exagera, ou falsamente divulga suas práticas ESG. O termo sugere que essa representação pode ser enganosa, sendo uma estratégia de marketing para capitalizar a crescente demanda por negócios ecologicamente corretos e socialmente responsáveis. 

A norma IFRS S1 requer que as empresas divulguem informações pertinentes sobre todos os riscos e oportunidades associados à sustentabilidade. Já a IFRS S2 define os critérios para a divulgação de informações ligadas ao contexto climático.



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