Entrevista: “O Conselho confia no nosso trabalho”

CRCPR Online: Quais são as principais atribuições de um delegado regional do CRCPR?

Por ser uma função que exige extrema confiança por parte do Conselho, o delegado é quem presta o suporte necessário à entidade em momentos de fiscalização e registro profissional. Ele também é responsável pelas relações estabelecidas junto à sociedade local, como empresas, administração pública, escolas e universidades, por exemplo. É uma extensão do Conselho. Ele está onde o órgão, por suas limitações geográficas, não consegue chegar, atuando como uma ponte, abrindo o caminho para o diálogo, relatando demandas profissionais na região em que atua. A consequência disso é a promoção do exercício contábil de qualidade. Sou grata por ter tido a oportunidade de representar o CRCPR durante esse período e saio da delegacia com sensação de dever cumprido. Assumi a postura de parceira da entidade e dos profissionais da região que representei. Em contrapartida, eu me senti acolhida: o Conselho é muito receptivo, ouve as necessidades da classe, sabe quais as nossas dificuldades e se dispõe a elevar a nossa profissão.

CRCPR Online: O que mais mudou na contabilidade durante esses 20 anos?

A delegacia que esteve sob a minha responsabilidade abrange – além de Ampére – Pinhal de São Bento, Realeza e Santa Izabel do Oeste, que são municípios menores e mais afastados dos grandes centros urbanos e da capital do Estado. A presença do CRCPR naquela região igualou o desenvolvimento profissional ao que temos visto em cidades maiores, já que eventos, cursos e palestras foram oferecidos com a mesma qualidade que vemos em Curitiba, por exemplo. As palestras presenciais e as transmissões pela internet permitiram a agregação de profissionais em busca de atualização, desenvolvimento, estudos e melhorias na prestação do serviço contábil à sociedade. Também pude observar o crescimento da contabilidade pública, que tem sido alvo de análises e objeto de comissão criada pelo CRCPR. Sei que ainda há bastante espaço para ser conquistado por esse segmento.


"O Conselho é muito receptivo, ouve as necessidades da classe, sabe quais as nossas dificuldades e se dispõe a elevar a nossa profissão."


CRCPR Online: A senhora pode dizer qual o momento mais desafiador que enfrentou durante o seu mandato?

Eu não diria que foi um momento específico, mas sim o processo de adaptação da classe contábil às tecnologias emergentes. A tecnologia veio para ajudar e tornar a vida moderna mais prática. Entretanto, muitos profissionais, principalmente os que estão no mercado há mais tempo, tiveram dificuldades para se encaixar nesses novos moldes – o que é compreensível, pois toda mudança gera resistência em algum grau, porque nos tira da nossa zona de conforto. Felizmente, o desafio ficou mais leve com os aperfeiçoamentos técnicos promovidos pelo CRCPR e, gradualmente, os contabilistas da região foram se adaptando e passaram a se interessar mais pelas novidades tecnológicas relativas à profissão.

CRCPR Online: Como contadora pública, acredita que o contador que atua junto à administração pública tem o poder de intimidar ou impedir tentativas de corrupção?

Recentemente, conheci uma jornalista de outro Estado com quem conversei sobre o atual cenário político e econômico do País. Quando lhe disse que o trabalho da contabilidade pública na administração das finanças de Ampére é realizado com total responsabilidade e sem a interferência de partidos políticos ou ideologias, ela ficou bastante impressionada porque, pela primeira vez em muitos anos de profissão, ouviu um relato sobre a boa sintonia entre o legislativo e o executivo municipal no melhor sentido: as contas do município estão em conformidade com a lei e disponibilizadas no Portal da Transparência. É dever do contador público levar ao conhecimento dos administradores os limites da administração de recursos, as circunstâncias que permitem ou impedem determinadas decisões. Não estou dizendo que o puro desconhecimento da contabilidade justifica atos de corrupção, mas é uma alegação utilizada por muitos. O profissional contábil que atua no setor público tem a obrigação de exigir correção, ética e seriedade dos governantes.

CRCPR Online: Qual a sua avaliação a respeito da influência do serviço contábil no setor privado?

A maior parte do meu mandato foi exercida em conjunto com a contabilidade privada. Nesse período, tive como clientes alguns mercados do município e montamos um sistema muito básico, mas um tanto audacioso para eles, que foi o controle de estoque. Essas empresas começaram a crescer porque tinham relatórios que registravam a entrada e a saída de mercadorias. É inacreditável, mas a maioria dos empresários de diversos setores não faz isso e sequer conhece os benefícios de algo tão simples, que atinge em cheio o seu faturamento. Afinal, os gastos serão realizados a partir das necessidades identificadas no controle de estoque. A economia local recebeu os benefícios dessa orientação. Ainda hoje, mesmo afastada da contabilidade privada, vejo que as empresas que adotaram esse tipo de gestão se consolidaram no cenário local. Aquelas que não deram continuidade ao modelo sugerido foram, gradativamente, perdendo espaço no mercado e chegaram a fechar as portas. Posso afirmar, sem equívocos, que a boa assessoria contábil faz uma diferença muito positiva para quem se deixa guiar por profissionais comprometidos.

CRCPR Online: A senhora tem um conselho especial para os novos delegados que assumem o posto esse ano?

Estejam próximos dos profissionais contábeis, conduzam as suas atividades com ética, presteza e dedicação. Não hesitem em levar ao CRCPR as necessidades e dúvidas da classe. O Conselho confia no nosso trabalho porque somos, na condição de delegados, os seus representantes nas localidades em que estamos; essa relação é necessária e benéfica. Espero que os próximos delegados se realizem como eu me realizei nessa grata função, porque ela nos oferece a oportunidade de crescer como pessoa no contato diário com colegas e com a própria sociedade. Todos nós ganhamos muito com essa proximidade.