Ainda falta muito para que a sociedade tenha ambientes que acolham a diversidade. Por isso é importante discutir, cada vez mais, o que precisamos fazer para mudar esse cenário. “Compliance de Gênero”, painel do XIII Encontro Nacional da Mulher Contabilista (ENMC), trouxe duas mulheres que batalham por isso. A sócia de auditoria e líder de IFRS para seguros nas Américas, Danielle Torres, e a advogada especialista em compliance de gênero em ambientes regulados, Mariana Covre.
A presidente do Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais (CRCMG), Suely Maria Marques de Oliveira, apresentou as palestrantes e mediou o painel. “Estou muito feliz em podermos, nesta tarde linda, discutir assuntos tão importantes para nós mulheres”, disse Suely.
Danielle Torres fez um relato pessoal sobre sua trajetória até chegar a executiva de sucesso como é hoje. “Minha mãe, que era jornalista, me fez aprender caratê. Eu nem gostava, mas ela insistia que eu precisava saber me defender”.
Danielle perdeu a mãe aos 11 anos e conta que teve uma adolescência difícil. Mulher trans, ela ouvia que era inadequada, errada, uma vergonha. “Dos 20 aos quase 30 anos, juro que tentei me adequar a um perfil masculino, mas tive crises de pânico, depressão. Aos 29 anos, tive que fazer uma escolha: ou eu me assumia como eu sou ou adoecia”.
“Eu não me transformei, eu sempre fui”, afirma Danielle. A partir da decisão tomada, tudo começou a fluir. Danielle começou a progredir profissionalmente, recebeu convite da editora Planeta para escrever um livro sobre sua vida, é colunista da revista Vogue e se tornou sócia da empresa onde era funcionária.
“Minha situação é diferente, porque transito por ambientes diversos e inclusivos, mas sei que pessoas trans são uma minoria – 3% da população mundial –, ainda existe muita discriminação”. Mulher forte, “quase faixa preta”, como costuma brincar, Danielle enfatiza: “Quero ser respeitada como respeito os outros”.
Felizmente nós existimos.
Mariana Covre começou sua palestra elogiando a organização do XIII ENMC pelas palestras inclusivas, com leitura de libras.
Ela explicou que compliance de gênero é monitorar a representação das organizações nas demonstrações de seus dados de equidade de gênero. No momento, 115 empresas têm um departamento de compliance.
“Estamos lutando para que os juízes, quando forem julgar mulheres, considerem as perspectivas do gênero”. Mariana afirmou que, apesar de as mulheres serem em maior número no Brasil e de existirem leis como a da Maria da Penha, o feminicídio só aumenta, e os ambientes continuam a ser hostis para as mulheres.
“Em 1940, as mulheres foram proibidas de jogar futebol; em 1960, elas poderiam trabalhar sem pedir autorização para os maridos, mas não podiam ter conta em banco. Evoluímos, mas há muito a ser feito”.
Em 2022, 18 milhões de mulheres no Brasil sofreram violência; elas são três vezes mais assediadas do que os homens nos ambientes de trabalho; ter mais filhos tira 40% de suas chances de conseguir trabalho. Para as mulheres atingirem a igualdade salarial, serão necessários 267 anos.
“Por isso”, concluiu Mariana, “precisamos de toda a sociedade – mulheres e homens – na luta pela equidade de gênero”.