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Contemporâneos da criação do CRCPR falam sobre as mudanças na profissão

Nada melhor para comemorar os 70 anos do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná (CRCPR) do que ter um pouco da história da profissão contábil no estado contada por quem ajudou a escrevê-la. Por isso, o CRCPR conversou com alguns contabilistas veteranos sobre quais foram, na opinião deles, as principais mudanças vivenciadas por eles ao longo de suas carreiras.






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Para Moacir Carlos Baggio (73), a sistemática fiscalização da profissão, que trouxe mais credibilidade para os profissionais.


Para Moacir Carlos Baggio, 73 anos, bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Paraná em 1967, ex-conselheiro do CRCPR e membro da Academia Brasileira de Ciências Contábeis e ex-presidente da Academia de Ciências Contábeis do Paraná, o aspecto mais visível é a tecnologia. “Comecei a atuar em uma época de transição, da contabilidade caligrafada para as máquinas exclusivas para escrituração, tais como a Ruf, primeira máquina a fazer a escrituração do livro diário e das fichas do razão simultaneamente. Quando tinha bastante prática, eu chegava a fazer 15 folhas por dia”. Ele conta que naquela época a função do profissional da contabilidade, que era conhecido como guarda-livros, era apenas fazer a anotação dos registros para atender o fisco, sem que fosse dado muito valor aos resultados. Outra mudança importante foi a sistemática fiscalização da profissão, que trouxe mais credibilidade para os profissionais. “Antigamente era comum que o empresário que precisava apresentar o balanço para conseguir crédito ou participar de licitações pedisse ao contador um ‘balanço bom’, que não necessariamente refletia a realidade da empresa. Embora já houvesse a questão da responsabilidade do contador, da assinatura, a fiscalização dos conselhos era fundamental para coibir esse tipo de prática e promover a evolução das Normas de Contabilidade”, pondera. Para ele, hoje, com a automação cada vez maior e com a possibilidade de fazer o cruzamento de informações entre os órgãos fiscalizadores, é cada vez maior a importância dos conselhos no sentido de promover a atualização dos profissionais, a padronização das normas contábeis e a harmonização com a Contabilidade internacional.







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Carlos Roberto Villordo (71), acha que enquanto no passado o contabilista tinha uma função de registro de informações, hoje ele é visto como um profissional estratégico para o desenvolvimento das empresas.


Na opinião de Carlos Roberto Villordo, 71 anos, técnico em Contabilidade, formado em 1964, bacharel em Administração de Empresas e Filosofia Jurídica, proprietário de uma empresa de contabilidade em Curitiba, com registro ativo desde 1972, enquanto no passado o contabilista tinha uma função de registro de informações, hoje ele é visto como um profissional estratégico para o desenvolvimento das empresas, já que seus relatórios e análises são fundamentais para o planejamento e a tomada de decisões. “Quando esse processo de automação começou, cheguei a me tornar programador, para me familiarizar melhor com as inovações e entender a evolução dos sistemas. Com isso, o papel do contabilista perante a sociedade também evoluiu muito, tendo ocorrido uma expressiva valorização profissional”, acredita. “Eu diria que atualmente o contabilista é um agente econômico responsável por escrever a história das empresas”, adiciona. Quanto ao papel do sistema CFC/CRCs nesse processo, ele pensa que foi muito benéfico para o desenvolvimento da profissão, “oferecendo ferramentas para que os profissionais se mantenham atualizados”. Além disso, ele acha que ao realizar a atividade de fiscalização, os conselhos vêm contribuindo para tirar do mercado os leigos e curiosos e manter somente os bons profissionais.







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Segundo Antônio Derseu Cândido de Paula (70) a categoria foi crescendo, se preparando cada vez mais e aumentando sua influência na sociedade.


Antônio Derseu Cândido de Paula, 70 anos, bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas de Foz do Iguaçu, sócio do escritório De Paula Contadores Associados, membro da Academia de Ciências Contábeis do Paraná, ex-delegado do CRCPR em Foz do Iguaçu e coordenador da Comissão de Acompanhamento e Interpretação de Mudanças Legislativas e Tecnológicas Afetas às áreas Fisco-Contábil e Tributária do CRCPR, concorda que as mudanças ocorridas contribuíram para a valorização da profissão. “Com a evolução tecnológica e do próprio sistema CFC/CRCs, a categoria foi crescendo, se preparando cada vez mais e aumentando sua influência na sociedade, passando de guarda-livros à função de consultor e gestor”, afirma. Ele lembra que as mudanças não foram apenas tecnológicas, mas também econômicas e políticas. “Atravessamos períodos como o da correção monetária dos balanços e da mudança do CFC para Brasília, na década de 90, que marcou a transição da atuação da autarquia para uma esfera mais nacional”, recorda. “O então presidente do CFC, Ivan Carlos Gatti, costumava dizer que o contador seria o profissional dos anos 2000. E foi isso mesmo que aconteceu!”

Para Jerônimo Tadeo Contin, 71 anos, bacharel em Ciências Contábeis pela UFPR, graduado em 1970, responsável pelo setor contábil da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em Curitiba, os conceitos contábeis em si não mudaram muito, mas sim a maneira de aplica-los. “Atuo na Conab há mais de 30 anos. Na área da Contabilidade Pública [Federal] a principal mudança ocorrida foi a implantação do SIAFI [Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal, que consiste no principal instrumento utilizado para registro, acompanhamento e controle da execução orçamentária, financeira e patrimonial do Governo Federal], que promoveu maior integração e melhorou os controles da administração dos recursos. Embora não tenha havido uma profunda mudança conceitual, houve uma evolução muito grande na parte tecnológica, que permitiu uma maior uniformização de procedimentos no serviço público”, relata.




Udolar Groth, 71 anos, nascido em Porto União, SC, mas morador de Curitiba desde 1953, é técnico em contabilidade, contador, administrador de empresas, e proprietário de escritório de auditoria, no bairro Água Verde, em Curitiba. Tendo começado a trabalhar com contabilidade em 1956, ele comenta sobre o processo pelo qual a profissão passou, da fase da contabilidade manual, em seguida mecânica para a informatização, sistemas digitais, online, arquivos de internet. Houve uma grande evolução. “Hoje, só os pequenos escritórios ainda não se ajustaram às novidades tecnológicas”, acredita. “Mas a mais importante de todas as mudanças foi a inserção das normas brasileiras de contabilidade ao padrão internacional”, opina. Ele lamenta que o sistema de leis esteja voltado para a arrecadação, em conflito com a contabilidade, que se ocupa com registros, a lucratividade das empresas expressa em números, fazendo com que as empresas muitas vezes não tenham controle sobre suas finanças.






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Para Darcy Bosy (72), a contabilidade é a melhor profissão que existe por uma razão simples: todo mundo precisa de um contador.


Darcy Bosy, 72 anos, do Curitibano Escritório Contábil, bacharel em Ciências Contábeis pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná, considera positivas, de certa forma, as constantes mudanças da legislação. “A contabilidade é a melhor profissão que existe por uma razão simples: todo mundo precisa de um contador”, afirma entusiasmado Darcy Bosy, que se formou em 1975, mas atua na área contábil há 50 anos. Foram muitas mudanças desde então. Quando começou, o livro diário, o livro de entrada e saída, toda a contabilidade era feita manualmente. Em seguida veio a máquina de escrever e já melhorou um pouco, mas a mudança mais incrível chegou com o computador e a internet. O avanço foi impressionante, na sua opinião: muita gente dizia que a contabilidade ia acabar, com a informática, mas aconteceu o contrário. A profissão ficou melhor. As legislações mudaram e continuam mudando muito, criando novas obrigações, mas tudo bem, argumenta: “Quanto mais os governos complicarem, melhor. Se fosse fácil, se todo mundo soubesse fazer contabilidade, o profissional não seria tão procurado”. Conta orgulhoso ter feito 550 Declarações de IRPF este ano.







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O auditor Jordão André Pesch (76) procura também colocar seus conhecimentos a serviço da sociedade, prestando serviços contábeis de maneira voluntária a entidades do terceiro setor, em especial a entidades religiosas e assistenciais.


Jordão André Pesch, natural de Mallet, é um dos mais assíduos participantes dos cursos e palestras do CRCPR. Seu interesse pela contabilidade começou aos 19 anos, quando deixou o interior, onde exercia a profissão de padeiro, para concluir seus estudos em Curitiba. No início de sua carreira, como técnico em contabilidade, realizava a escrituração manual dos diários, ainda no tempo da impressão com gelatina. “As leis não mudavam tão rápido como hoje em dia. Quando a gente ia fazer o imposto de renda dos clientes, perguntava aos colegas se tinha havido alguma mudança na legislação em relação ao ano anterior, lá na Rua XV de Novembro, onde eu trabalhava. Hoje as mudanças acontecem quase que semanalmente, em especial na parte tributária. É complicado de acompanhar”, comenta. Segundo ele, o Sped veio facilitar o trabalho porque é um retrato fiel das transações das empresas. “Por outro lado, o contabilista depende hoje em dia de atualização permanente. Eu, que atuo também como auditor, aos 76 anos procuro ler muito e me atualizar constantemente para poder oferecer um trabalho de qualidade a meus clientes”, orgulha-se. Graduado em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Administração Plácido e Silva, o também bacharel em teologia e em capelania procura também colocar seus conhecimentos a serviço da sociedade, prestando serviços contábeis de maneira voluntária a entidades do terceiro setor, em especial a entidades religiosas e assistenciais.







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Mauro de Souza (71) vê a convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade com as normas internacionais como uma das maiores evoluções da contabilidade.


Para o auditor e bacharel em Ciências Contábeis pela UFPR, Mauro de Souza, de 71 anos, colega de Jordão Pesch no curso técnico de contabilidade, o que mudou na profissão desde que iniciou foi um conjunto de coisas, desde a forma de se trabalhar – “passei pela era dos processos manuais, depois a dos processos mecânicos e pela chegada da automação” – até o papel do profissional contábil na sociedade. “Mas para mim, a maior mudança foi a convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade com as normas internacionais (IFRS). Antes as empresas com atividades em outros países não conseguiam nem ler os balanços das subsidiárias daqui”, conta. Ele só lamenta a complexidade da legislação tributária brasileira. “As mudanças são quase diárias e isso atrapalha um pouco, porque ao invés de utilizar o tempo fazendo um bom trabalho, gasta-se tempo tentando entender as mudanças”. Para ele, o ideal era que o Brasil seguisse o exemplo de países como Portugal e França, onde a legislação tributária é mais clara e objetiva, ou até mesmo de alguns países da América Latina. “Como auditor, imagine a carga de informações que eu tenho que absorver e processar todos os dias”, pondera. Aos 71 anos, ele conta ainda que a escolha da carreira atendeu a um sonho de infância. “O chic era ser guarda-livros e casar com professora. Consegui as duas coisas”, diverte-se.





O Paraná tem hoje quase 1.500 contabilistas com mais de 70 anos com registro ativo, correspondendo a 4,4% do total de profissionais habilitados para o exercício da profissão. Cinco deles têm entre 100 e 106 anos.