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Uma mulher foi, pela primeira vez, a vereadora mais votada para a Câmara Municipal de Curitiba. Indiara Barbosa Custódio (Novo) se elegeu para o seu primeiro mandado como vereadora na cidade com 12.147 votos. Natural de Umuarama (PR), com 37 anos, mãe de um menino de 7 anos, a conselheira efetiva do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná (CRCPR) é formada em Administração e Ciências Contábeis e é auditora contábil, acumulando 13 anos de atuação em uma empresa multinacional de auditoria, em que chegou ao cargo de gerente sênior. Essa experiência com auditoria e verificação de contas de empresas, ela pretende colocar em prática para fiscalizar as contas da capital paranaense. "As aprovações das contas do município estão sete anos atrasadas. A gente vê que os vereadores que estão na Câmara dão foco hoje para outras coisas, mas constitucionalmente esta é a principal função de um vereador", disse ao portal G1 ao ser entrevistada, logo após a confirmação do resultado das urnas. Nas eleições de 2018, ela concorreu para deputada estatual, tendo obtido mais de 31 mil votos, sendo cerca de 19 mil em Curitiba. No CRCPR, Indiara foi eleita conselheira em 2019, para um mandato de quatro anos (2020-2023), no pleito para renovação de 1/3 do plenário, e faz parte das Câmaras de Fiscalização e de Ética e Disciplina. Nesta entrevista exclusiva ao CRCPR Online, Indiara fala sobre sua plataforma política, financiamento de campanha e o que pretende fazer em benefício da classe contábil de Curitiba.

CRCPR Online: O que lhe motivou a entrar para a política?

Indiara Barbosa Custódio: Eu sempre me envolvi com voluntariado. Quando criança fui escoteira, depois, ao longo da vida, realizei trabalhos voluntários na igreja, e na empresa onde trabalhei ao longo dos últimos 13 anos, contamos com uma área de Responsabilidade Corporativa. Um dos programas ministra aulas de finanças pessoais em escolas de comunidades carentes. Eu adoro essa parte de finanças e acabei me engajando nesse projeto. Mas eu acredito que a política é uma forma de dar uma contribuição mais efetiva para a sociedade. Então, em 2018 ei decidi me candidatar a deputada federal e participei de um processo seletivo no meu partido. Não foi uma decisão fácil, porque de certa forma é uma mudança de carreira, mas acredito que a gente precisa de pessoas com melhor formação e capacitação na política. Se a gente só reclamar, não vai mudar nada. Temos que colocar gente nova. Não fui eleita, então voltei para a Auditoria. Nesse intervalo, entrei no CRC como conselheira. Acredito que o papel do Conselho é muito importante para a profissão e para a sociedade. No próprio Conselho, às vezes a gente escuta críticas da classe contábil também, mas não adianta a gente ficar de fora, só criticando, muitas vezes sem conhecer o trabalho que é feito. A gente tem sempre que participar.  Se não concorda com algumas coisas, tem que estar lá dentro, ajudando a valorizar profissão, a fiscalizar, e foi por isso que eu me candidatei para ser conselheira aqui no CRCPR, um trabalho que também é voluntário.

CRCPR Online: Na sua opinião, qual foi o fator que mais pesou na decisão do eleitor que votou em você? O fato de ser mulher, jovem, o seu partido, não ter experiência política anterior ou a sua plataforma focada em fiscalizar a aplicação do dinheiro público?

IBC: Acho que foi uma combinação de tudo isso, mas acredito que o mais importante foi esse anseio por renovação. As pessoas enxergaram em mim uma pessoa com currículo – usei muito isso como peça de propaganda. Consegui construir uma boa reputação na minha carreira e ter muito boas indicações, sem ter histórico na política. Acho que isso contou bastante e me levou a ser eleita como a mais votada. Aliás, quanto a essa questão de currículo, por não ter experiência na política, eu também fiz dois cursos: o Renova BR, uma escola de formação de políticos, que ensina não só a fazer campanhas, mas a fazer política baseada em evidências e o curso da Rede de Ação Política e Sustentabilidade, que também dá formação para pessoas novas que querem mudar a política.

CRCPR Online: Seguindo o posicionamento da sua legenda, você não utilizou recursos do Fundo Eleitoral – verba pública destinada aos partidos para as eleições – para financiar a campanha. Como é fazer uma campanha eleitoral sem dinheiro público?

IBC: Usando muito as redes sociais, fazendo muitos vídeos, bem como indo para as ruas – claro que tomando todos os cuidados, porque afinal estamos no meio de uma pandemia. Também contribuiu o fato de que em 2018, apesar de não ter sido eleita, eu tinha conseguido uma excelente votação – mais 19 mil votos só aqui em Curitiba, como também votos de eleitores de mais de 300 municípios. Isso sem ter sobrenome de político, sem ser uma pessoa de grande exposição, e com pouco dinheiro. Isso já demonstrava, na época, o anseio das pessoas por renovação. 

Para fazer a campanha, eu peguei uma licença não remunerada no meu trabalho. Não tendo sido eleita, voltei a trabalhar como auditora ao longo desses dois anos, mas ainda acreditando que a gente precisa de melhores políticos em todas as esferas – municipal, estadual e federal. Essa foi a minha motivação para se candidata a vereadora. Então peguei mais seis meses de licença não remunerada e me dediquei totalmente, para fazer uma campanha competitiva. Desta vez a gente planejou melhor, pois para eleger gente nova, é preciso realmente fazer um bom trabalho. 

Infelizmente as pessoas boas, honestas, se afastaram da política. Com isso a gente deixa o caminho livre para quem não tem boa intenção. Se a gente realmente quer mudança, precisa se envolver. E eu tenho esse desafio também: fazer um bom trabalho, mostrar um mandato diferente, de renovação, que seja um exemplo, para que mais pessoas competentes, bem intencionadas, se inspirem, para que no logo prazo possamos mudar isso e ter mais gente boa na política. 

Além disso, meu partido não concorda com o uso de dinheiro público nas campanhas eleitorais e inclusive devolve o dinheiro do Fundo Partidário para o Tesouro, que vem dos impostos, para que ele seja aplicado onde realmente deveria ser aplicado – na saúde, educação, etc. Nossos recursos vêm de doadores voluntários, que acreditam nas nossas ideias. A campanha foi financiada por doadores. Captamos cerca de R$ 200 mil, menos da metade do teto, que é de R$ 530 mil aqui em Curitiba. Cerca de R$ 33 mil vieram de pequenas doações, por meio de uma vaquinha virtual, em que as pessoas podem doar qualquer valor usando o cartão de crédito, e damos muita importância a isso, pois foi muita gente contribuindo para chegarmos lá, o que reafirma esse desejo por mudança e fortalece a democracia.

CRCPR Online: Na sua opinião, o que o Legislativo Municipal pode fazer para melhorar a aplicação dos recursos públicos e combater a corrupção?

IBC: As principais funções do vereador são fiscalizar, legislar e representar a sociedade perante o Executivo Municipal. Quanto a legislar, acredito que já tem lei demais. Pretendemos fazer um trabalho de revogar leis obsoletas, antigas, e que mais atrapalham a vida, criando um ambiente mais favorável ao empreendedorismo. 

Quanto a fiscalizar, esse vai ser o grande foco do meu mandato, com auditorias recorrentes, olhando áreas da prefeitura a cada 3-4 meses – onde o dinheiro está sendo gasto, em cada Regional, quais são os índices, se a gestão está indo bem, se não está, como o dinheiro está sendo administrado. Quando você fiscaliza bem, combate os maiores problemas da administração pública, que são a corrupção, a má gestão e o inchaço da máquina. Também tenho experiência com a questão de compliance e controles internos e pretendemos trazer essa pauta para o próprio mandato, como também na prefeitura, a fim de prevenir e evitar casos de corrução. Outro ponto é trabalhar junto à Prefeitura e ao TCE para regularizar essa questão das contas em Curitiba e para trabalhar de forma mais eficiente e eficaz no combate à corrupção. 

Se você pegar a Constituição Federal, o artigo 31 é bem claro ao dizer que a fiscalização financeira, contábil e orçamentária do município deve ser feita pela Câmara de Vereadores e pelo Tribuna de Contas do Estado. Portanto, isso é função dos vereadores, mas não é o que acontece. Na atual legislatura, você não tem pessoal com formação na área contábil, por exemplo, para fazer essa fiscalização. Além disso, não é essa prioridade dos vereadores. Para você ter uma ideia, neste ano de 2020 foram aprovadas as contas da Prefeitura de 2012 e 2013. Ou seja, estamos com sete anos de atraso. Por isso que a gente precisa de pessoas capacitadas para fazer essa fiscalização e isso tem tudo a ver com a minha formação como auditora.

CRCPR Online: Por ser mulher, alguma proposta voltada especificamente para os direitos da mulher, políticas afirmativas ou promoção de igualdade?

IBC: A gente tem que trabalhar para a melhoria das condições da população como um todo. Eu faço parte de grupos que se preocupam com a questão do empoderamento e promoção da igualdade das mulheres, como o Mulheres do Brasil e Mulheres Executiva, na empresa onde eu trabalho também participo de grupos de discussão sobre como aumentar a presença das mulheres em cargos de liderança e na política. Pretendo fazer isso focando em temas como a educação básica, pois acredito muito que a única forma de melhorar a sociedade é por meio da educação – em especial da educação básica, que é a competência municipal, e isso é essencial para melhorar a vida das mulheres. Hoje aqui em Curitiba a gente não tem vagas em creche suficientes para todas as crianças e a qualidade do ensino ainda pode melhorar muito. A vida das mulheres é muito impactada pela educação. Melhorando a educação básica de forma significativa, a gente consegue melhorar as condições para as mulheres, para que elas possam trabalhar com tranquilidade, poderem alcançar cargos de liderança com tranquilidade. 

Creio que dando o exemplo de que é possível uma mulher ser a mais votada, chegar a uma boa condição, vou contribuir para que mais mulheres venham também para a política, do que em imposições por lei e por quotas. Meu partido, aliás, dá condições de igualdade a homens e mulheres e não concorda com as quotas femininas na política. No entanto, as duas vagas conquistadas na Câmara Municipal de Curitiba serão ocupadas por mulheres. Acredito muito mais no poder de mudanças culturais dentro das organizações do que em mudanças impositivas, como meios para que tenhamos mais igualdade e mais mulheres na política e em posições de liderança.

CRCPR Online: Como fica a sua carreira na iniciativa privada? Como você pretende conciliar as atividades como vereadora e como conselheira?

IBC: O trabalho na auditoria demanda muito. Entendo que não é possível conciliar o trabalho como vereadora. Além de tudo, quero me dedicar ao mandato. Também sou mãe e preciso me dedicar para a família, por isso. Como conselheira do CRCPR, acho que seja possível conciliar, se não houver nenhum impedimento, pois o trabalho é mais pontual, com a análise de alguns processos e a participação em algumas reuniões mensais.  

Estejam certos de que vou me empenhar ao máximo para cumprir com as propostas da minha plataforma, contribuindo para melhorar a vida na nossa cidade, bem como a vida do contador. Melhor que ninguém, ele conhece as dificuldades que as pessoas que querem empreender e trabalhar enfrentam no Brasil. Vou trabalhar para reduzir a burocracia e simplificar impostos e isso vai beneficiar, com certeza, todos os contadores. 

Agradeço a todos e fico à disposição do CRCPR e dos profissionais da contabilidade que queiram contribuir para o meu mandato, que será participativo, com voluntários. Convido vocês a me acompanharem nas redes sociais, mandar mensagens e, se quiserem participar, se envolver mais, também agradeceremos muito.

Reprodução permitida, desde que citada a fonte.


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