:: O VERDADEIRO ESPÍRITO BRASILEIRO


O Brasil tem sido pintado pelos estrangeiros como um país onde o povo não gosta de
trabalhar, só quer festa, folia, brincadeira. Carnaval, futebol e samba são rótulos para identificar o “espírito brasileiro”. Trata-se, porém, de grossa calúnia herdada dos tempos coloniais. Hoje, a realidade é outra. Nossa sociedade não se compõe mais de senhores e escravos e, pelo menos teoricamente, somos livres. Prova do nosso desejo de liberdade e vontade de trabalhar são as taxas recentes de empreendedorismo registradas no país. Em 2002, obtivemos a sétima posição geral entre as 37 principais economias do mundo; fomos a quinta nação mais empreendedora em 2001 e a primeira no ano 2000. Cerca de 14,4 milhões de brasileiros tentaram desenvolver alguma atividade própria, no ano passado.

Estes dados revelam o verdadeiro espírito brasileiro. Gostamos de carnaval, futebol, samba… Mas queremos trabalhar também. Se ainda há miséria e pobreza, no Brasil, impondo-se a adoção de programas emergenciais, a exemplo do Fome Zero, é porque forças limitantes estão impedindo-nos de superar os nossos problemas.
Por que grande parte da população ainda não encontrou os caminhos da libertação, pelo menos no plano material? Por que as alternativas de crescimento econômico não se universalizam? Mais de 50% dos brasileiros que ousam abrir um negócio fracassam nos dois primeiros anos da iniciativa, passando por problemas que vão do despreparo para empreender ao desconhecimento do mercado, falta de incentivos, dificuldades de acesso a capital, carga tributária pesada, excesso de exigências legais… O índice de desemprego do país seria bem menor se esses empreendimentos vingassem. Apesar de tudo, micro e pequenas empresas têm respondido por 97% dos postos de trabalho do país, nos últimos anos, segundo o Sebrae.

A redução de impostos, por exemplo, representaria um grande incentivo à produtividade, mais empregos e aumento da arrecadação previdenciária. É por isso que temos reivindicado o sistema de tributação simplificado – o Simples – para todas as micro e pequenas empresas. Este ano mesmo, juntamente com representantes da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis, Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon) e das federações do comércio (Fecomércio), já estivemos, por duas ocasiões, em Brasília, pedindo revisão do veto ao enquadramento dessas empresas no Simples.

Além de sofrer o impacto dos tributos, como empresária do segmento de serviços, a classe contábil tem pressionado o governo pela adoção de um novo sistema tributário e fiscal capaz de impulsionar a economia como um todo.

A convite do Sebrae/PR, os contabilistas vão atuar no Programa de Orientação ao Pequeno e Microempresário (Próprio), com o objetivo de baixar o índice de mortalidade dos pequenos negócios (ler matéria na página 07). Todo o país tem interesse no sucesso de novos empreendedores.
Com apoio, reformas estruturais anunciadas e restrições aos especuladores – esses, sim, não gostam de trabalhar e, até prova em contrário, são estrangeiros, na sua maioria – o verdadeiro espírito brasileiro sobressairá, com força e independência, dando lições ao mundo de produtividade e também de convivência pacífica e alegria.

Nelson Zafra

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