:: DOIS CATARINENSES DE ALMA PARANAENSE

 

Orivaldo João Busarello


Saúde frágil

"Estou bem. Não quero saber do coração", dizia Busarello quando a esposa e as filhas insistiam que fizesse exames. Não é que ele tivesse descuidado completamente da saúde. Fazia acupuntura religiosamente. Ia ao médico. Tomava remédios. Dizia que a única coisa que o incomodava era a adenóide. Ia operá-la. O coração ia bem. Ainda assim, a família se preocupava. Notava que ele andava estressado. Engordara. Não se privava, entre outras "delícias", dos pastéis que mandava buscar sempre que permanecia um pouco mais no CRC. O infarto de 16 de setembro de 2002 foi fulminante. Uma paralisia que atingira sua mãe semanas antes o abalara sensivelmente. Tinha apenas 54 anos, mas aparentava mais idade.

As complicações cardíacas tinham se manifestado dez anos atrás. Teve três infartos seguidos. Parou de fumar. Fez cateterismo e angioplastia.

Trabalho

Trabalhava muito. Sempre trabalhou muito. Ultimamente, era diretor da multinacional Uteco, indústria de máquinas com sede na Itália. Era professor e coordenador do curso de Ciências Contábeis da PUC/PR, conselheiro do CRCPR e ainda tinha uma ponta como sócio na LDO, empresa de contabilidade instalada num prédio da praça Generoso Marques. Fazia parte do CRCPR desde 1998.

 

Rio dos Cedros

Via de regra, falava pouco. Muito menos costumava se exaltar, como é típico de pessoas de sangue italiano. Mas Busarello falava fluentemente o italiano, a ponto de acharem, quando esteve na Itália, por duas ocasiões, que ele não era brasileiro.

Aprendeu a língua com os pais, em Rio dos Cedros, Santa Catarina, onde nasceu e viveu até os 18 anos. Trabalhava na roça e freqüentava a escola, em Timbó, fazendo um longo trajeto de bicicleta.

Em Rio dos Cedros ainda vive a mãe e uma irmã.

Quando não preferia ficar em casa paparicando a família e principalmente os netos, ele procurava o mar, um rio, um tanque. Pescar era o seu único lazer.

Rosvalda o conheceu na antiga Casa Dico S/A, filial de uma loja que havia em Curitiba. A sede era em Porto Alegre. Ele era o contador da empresa e ela atendente, separada, mãe de duas filhas pequenas, Cleuza Maria e Rosane Mara. Namoraram. Decidiram viver juntos. O casal, que no dia 22 de novembro de 2002 iria comemorar 32 anos de união, não teve mais filhos.

Orivaldo João Busarello veio ainda jovem para Curitiba. Fez os cursos de Ciências Contábeis e Administração, especialização e mestrado em Educação. Além do trabalho contábil, começou a dar aulas. Antes da PUC/PR, lecionou dez anos na FAE.

 

Ajudar a quem precisa

Católico. Não era de freqüentar igrejas. Acreditava que o fundamental é ajudar os outros. Costumava dizer que Deus era muito bom com ele, então tinha que oferecer alguma coisa a quem precisava. Colaborava com o Pequeno Cotolengo, o Hospital do Câncer e outras instituições que o procuravam. Mas seu especial carinho era devotado ao Natal das crianças e velhinhos de Postinho e Piraí, no município de Tijucas do Sul, onde tem um sítio. Fazia uma poupança desde o começo do ano para a festa, que realizava há sete anos. Distribuía presentes e dava refeições. A festa deste ano já estava sendo organizada; e vai acontecer de qualquer modo, em homenagem ao Orivaldo, promete Rosvalda.

 

OSWALDO XAVIER DE SOUZA


Embora aposentado há cerca de 12 anos, o contador Oswaldo Xavier de Souza, que ia fazer 73 anos em dezembro, mantinha uma série de atividades. Entre outras, fazia a contabilidade de duas empresas e era membro da Academia de Ciências Contábeis do Paraná. Não fosse a hipertensão, seu quadro de saúde poderia ser classificado como bom para um homem da sua idade. Tanto que as dores nas costas que o levaram ao hospital, no dia 6 de outubro, foram, a princípio, diagnosticadas como crise renal. Ficou em observação. Fez exames. Ia receber alta no dia seguinte. As pontadas, no entanto, voltaram na madrugada, no peito, agudas, fulminantes. Infarto do miocárdio.

Lazer e hobby

Além do sossego da casa da praia, em Ubatuba, São Francisco, onde, sempre que podia, passava até semanas fora de temporada, a fotografia era uma paixão antiga, combinada com o "hobby" de filmar ocasiões especiais. Deixou um acervo de fitas e principalmente de filmes fotográficos, em preto e branco, revela o padre Ângelo Carlesso, ao qual cedeu três rolos de negativos para o resgate da memória da paróquia Nossa Senhora do Rocio, que faz 50 anos neste mês. Há fotos inclusive da fase de construção da igreja, que ele viu ser erguida, desde a fundação.

Nascido em Joinville, veio pequeno para Curitiba e ia completar 50 anos somente de Rebouças, na cidade. A família da esposa é pioneira do bairro. Há muito, portanto, o Xavier freqüentava as missas de Nossa Senhora do Rocio, tinha laços de amizade com os párocos e ultimamente fazia parte do Conselho Fiscal da creche da paróquia, mantida pela comunidade.

O Xaxá

"Ele era muito família", afirma a esposa Maria Erba. As bodas de ouro de casamento estavam programadas para 18 de dezembro. O padre Ângelo já anotara a missa festiva em sua agenda. O Xavier gostava de ver todos os seus por perto: as filhas, Eliane, Elisa e Eloísa, os netos, os genros, os demais… Não era do tipo para quem a idade e as experiências de vida tivessem estabelecido barreiras de relacionamento. Jovem de espírito, sempre mexendo com as pessoas e fazendo brincadeiras, era o divertido Xaxá para os netos.

Passado intenso

Seu currículo revela uma vida intensa. Fez contabilidade de grandes empresas mercantis, industriais, organizações públicas e atuariais, no Paraná. Participou de várias entidades: entre outras, foi membro do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná de 1974 a 85 e seu presidente, no período de 1982 a 85; presidente do XI Congresso Brasileiro de Contabilidade em 1980; membro do Conselho Fiscal do Colorado Esporte Clube e da Federação Paranaense de Futebol; presidente da Academia de Ciências Contábeis do Paraná de 1991 a 93; membro do Conselho Consultivo do Sindicato dos Contabilistas de Curitiba de 96 a 2001.

A despeito do passado de realizações, aqui resumidas, fazia questão de continuar participando e de manter-se atualizado. Usava a internet. Tinha endereço eletrônico. Era um homem antenado.

 

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