:: Comandante da PM fala sobre os problemas da segurança pública no Paraná

Na última palestra do programa Diálogos da Classe Contábil com a Sociedade, dia 13 de abril, no auditório do CRCPR, o palestrante foi o comandante da Polícia Militar do Paraná, coronel David Pancotti. Instituído em 2004 pelo presidente Maurício Fernando Cunha Smijtink, o programa tem o objetivo de discutir assuntos de interesse coletivo e promover a interação dos contabilistas com a sociedade.
Segurança no Paraná, assunto que preocupa toda a sociedade, foi o tema abordado pelo comandante da PMPR. Pancotti destacou o que diz a Constituição Federal: “segurança pública é um dever público e da sociedade”. Para ele, “é um equívoco pensar que é apenas dever das autoridades. A segurança não funciona se não estiver ancorada nesses dois pilares”. O comandante citou, nessa linha, a importância da criação dos conselhos comunitários de segurança, que têm dado suporte ao trabalho da polícia: “é a sociedade quem vive, sabe e pode falar dos problemas”.
Sobre os maus policiais, ele afirmou que a “corporação tem consciência de que nem sempre faz a coisa certa”, mas vem agindo com extrema autocrítica e de forma firme para limpar a corporação de elementos que a denigrem. Segundo ele, nos últimos dez anos, nunca houve tanto policial denunciado. Não há a intenção de esconder nada mesmo. A filosofia é mudar a postura do batalhão, tornando-o pró-ativo, criando vínculos fortes com a comunidade e enfatizando investimentos em pessoas e não em instrumentos. “Estamos modernizando a PM do PR”, disse.
Pancotti fez um relato dos principais programas desenvolvidos pela Polícia Militar do Paraná, em todo o Estado, entre eles o projeto POVO, em que os policiais realizam um trabalho ostensivo volante junto à comunidade, desarmamento, ações integradas entre PM e Polícia Civil e também com os órgãos públicos. O Paraná é modelo para outros Estados. Outro trabalho importante desenvolvido pela PM é a integração on-line e o centro de pesquisa e geoprocessamento, que tem o objetivo de se antecipar à ação criminosa, implantado nas 35 maiores cidades do Estado.
Outro importante programa é voltado à educação. Pancotti afirmou que o conhecimento é fundamental. “Estamos investindo na qualidade. Tanto que o vestibular para ingresso na PM é um dos mais concorridos da UFPR. Existe esforço para melhorar a escolaridade do contingente. A Academia do Guatupé, por exemplo, nunca teve tantos cursos como agora”, observa.
Ainda no âmbito operacional, a PM também trabalha com a Patrulha Escolar, o Alerta contra furto e roubo de veículo, a Força Verde, que atua na fiscalização em parceria com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e o Projeto Verão. Neste último, segundo o comandante, não foi registrado nenhum homicídio no verão 2004/05, mesmo com a circulação de aproximadamente quatro milhões de pessoas no litoral.

Depois da palestra, o comandante respondeu a perguntas dos presentes. Confira:

Gerson Luiz Borges de Macedo: O desarmamento da população não contribui para deixar o marginal armado?

Pancotti: 60% dos homicídios ocorrem com pessoas que não têm conhecimento de armas, na faixa etária de 18 a 25 anos, justamente a mesma da maioria que morre por envolvimento com a criminalidade. É considerável também o número de acidentes e incidentes com crianças. A ação de desarmamento é enfatizada nas fronteiras e nas regiões-problema, que são três no Estado: Curitiba, Londrina e Foz do Iguaçu.

Nilva Amália Pasetto: Por que a PM não agiu antes na Vila Torres, onde os assaltos, na via para o aeroporto, eram diários, e diminuíram significativamente com a presença permanente da polícia?

Pancotti: A PM não trabalha atualmente apenas com ação direta. Ela conta com um trabalho de inteligência (investigação) e apoio de outros órgãos. O sucesso da ação na Vila Torres não se deve apenas à atuação da PM, que há muito operava no local com prisões diárias, mas a uma ação conjunta envolvendo a prefeitura, o Estado, a União e a comunidade. Paralelamente à ação da PM houve ações de revitalização do bairro centradas em educação, trabalho, saúde, higiene e até de caráter religioso. Sem essa parceria, hoje, as ações policiais estão condenadas ao fracasso. A estruturação dessa parceria é demorada e está programada para ser executada nas áreas mais violentas da capital.

Expedito Barbosa Martins questionou a abordagem abusiva por parte dos policiais.

Pancotti: É uma herança lastimável do passado. Os abusos serão punidos. O objetivo é suavizar a abordagem, melhorar com treinamento, educação. A orientação é que haja respeito à comunidade.

Também foi questionado como administrar uma carência de cerca de 14 mil policiais e por que o 190 está sempre ocupado?

Pancotti: O problema do 190 é que são 12 a 14 mil ligações/dia; mais de 30% são trotes. O 190 está sendo reformulado, tanto para atender melhor como para identificar as chamadas falsas. A questão da falta de policiais vem sendo tratada com as prefeituras. Na Fazenda Rio Grande, por exemplo, houve essa conversa, uma legislação foi aprovada fechando os bares, impondo o toque de recolher. Foi significativa a redução da criminalidade.

 
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