Maurício
Fernando Cunha Smijtink
PPP pode minimizar
o desemprego, a pobreza, o analfabetismo, construir escolas, hospitais,
rodovias, ferrovias, usinas, redes de saneamento... Patati, patatá...
Afinal o que é essa maravilha de que tanto se fala ultimamente
e vem rendendo até neologismos como pepezistas e pepeizáveis?
Parece, mas não é legenda político-partidária.
Esperamos também que não seja apenas mais uma sigla do
exótico vocabulário alimentado por gente que vive inventando
moda para iludir a opinião pública e eximir-se de suas
responsabilidades.
Public Private Partnership é a expressão original, utilizada
pela primeira vez na Inglaterra, há pelo menos 20 anos, como
instrumento para viabilizar nova forma de Parceria Público-Privada.
Não é novidade, portanto.
É um projeto de lei que tramita no Congresso Nacional, uma proposta
do governo para salvar a pátria (e a gestão Lula).
É consenso que o Brasil, na atual conjuntura, não poderia
desencadear um processo de desenvolvimento sustentado, como precisa
e deve. Enfrentaria entraves de escassez de energia e de tecnologia,
falta de mão-de-obra especializada, rodovias e ferrovias precárias,
portos e aeroportos insuficientes e ineficientes... Problemas ocorreriam,
enfim, em pontos estratégicos que dão suporte à
dinâmica da economia. Seria como instalar um motor superpotente
em uma frágil carcaça.
Investir amplamente em infra-estrutura é a ordem, portanto.
A princípio, como manda a Constituição, cabe à
União essa tarefa. Mas, o superávit da União mal
vem dando para cobrir despesas inadiáveis, de pessoal e pagar
os juros da dívida pública, minguando mais ainda com a
deslavada corrupção.
As experiências público-privadas, no Brasil, não
têm sido interessantes para o principal sujeito da relação.
No século XIX, por exemplo, tivemos uma certa modalidade de PPP
para a construção de ferrovias e portos, vitais para o
escoamento de safras. Foi o início do nosso endividamento, para
não falar das benesses que o Império concedeu aos financiadores.
A recente transferência de ferrovias e rodovias ao setor privado
já poderia ter sido um acordo que previsse investimentos. A população
é quem acaba sofrendo as conseqüências de políticas
equivocadas, contratos mal-feitos, pagando a conta sob a forma de impostos,
juros elevados, além de ficar sem as obras e serviços
essenciais. Hoje seria diferente: temos a Lei de Responsabilidade Fiscal
que pune gestores públicos irresponsáveis.
Há quem diga que uma PPP mal elaborada pode tornar o Brasil,
de uma vez por todas, refém do capital internacional.
Não significa que o País deve fugir de parcerias. As parcerias
são necessárias. Temos maturidade e inteligência
crítica suficiente para definir uma forma capaz de trazer vantagens
a todos, principalmente à coletividade. Importa, pois, analisar
criteriosamente os pontos do projeto de lei da PPP que prevêem
empréstimos garantidos pelo Estado, liquidação
de empreendimento, receitas e fundos especiais, dotações
e créditos adicionais, transferência de ativos não-financeiros
e transferência de bens móveis e imóveis.
De resto, não faz sentido continuar alimentando o clima de desconfiança
entre público e privado, como na relação entre
o lobo e o cordeiro. Que o Estado altere a sua conduta, passando a cuidar
da oferta plena de meios de sobrevivência aos indivíduos
e às empresas. Que as empresas revejam suas filosofias focadas
só na acumulação, no gigantismo, assumindo responsabilidades
para com a coletividade de onde retira seus lucros. Algumas já
vêm fazendo espontaneamente o balanço social – peça
contábil que deveria ser universalizada.
Parceria entre os poderes político e econômico é
uma questão de amadurecimento, convergência de interesses,
integração necessária, avanço democrático.
Presidente do Conselho
Regional de Contabilidade do Paraná
e-mail: presidente@crcpr.org.br