Queira Deus não ocorram
mortes, que as autoridades fazendárias se sensibilizem e tomem
providências, mas assalto não é a primeira vez,
na fila da Receita Federal, em Curitiba. O último foi dia 28
de julho. Um contribuinte, para assegurar o primeiro atendimento, que
começa às 9h, levantou cedo. Às 4h da manhã
estava na frente do prédio, na Marechal Deodoro, esperando a
distribuição de senha, quando foi surpreendido por marginais.
Acordar de madrugada, enfrentar frio, chuva e o risco de ser assaltado
e até morto, para garantir um lugar e cumprir obrigações
para com o fisco é o cúmulo; mas é a dura rotina
de centenas de brasileiros. Isso não acontece apenas em Curitiba
e nem é exclusividade da Receita Federal. Filas são um
velho espinho na nossa carne, cabendo lembrar que já houve mortes,
sim, nas filas do velho SUS (Sistema Único de Saúde),
e muito sofrimento e humilhação nas filas do INSS.
Seja em repartições públicas, seja de empregos,
como daqueles disputados por dezenas de milhares de candidatos, filas
são expressão do País arcaico, atrasado, burocrático,
lento, em choque com o País que está se modernizando,
avançando, e precisa crescer rápido.
As filas da Receita Federal, em particular, têm sido objeto de
antigas e pesadas críticas, por parte dos profissionais que medeiam
a relação entre o fisco e o contribuinte, principalmente
Pessoa Jurídica: cerca de 80% do atendimento diário, nos
balcões da Receita, é feito a representantes de escritórios
de contabilidade.
Falta de pessoal e de estrutura contam, sem dúvida, mas a causa
principal das filas, no caso da Receita, vêm a ser a gigantesca
burocracia, o excesso de regulamentação, o número
abusivo de impostos, contribuições, taxas e exigências.
Somente as obrigações acessórias federais somam
23 siglas curiosas umas, outras nem tanto: DOI, Paes, Dcide, Sinco,
CPMF, ZFM, Dacon, DCP, DCRE, DCTF, Decred, Derc, DIF, Dimob, Dipi, DIPJ,
Dirf, DITR, DNF, DSTA, PER/DCOMP, Perc, PJ.
Quem acaba sob o sufoco da parafernália de regras, prazos cada
vez mais curtos e arca com multas pesadas, em caso de lapsos, é
o contabilista. O simples atraso, por exemplo, na entrega do DACON (Demonstrativo
de Apuração de Contribuições Sociais) acarreta
multa de R$ 5.000,00 por mês. Acresce que muitas idas ao fisco
são apenas para provar que o contribuinte está em dia.
A despeito de tudo, os contabilistas têm sido parceiros da Receita
Federal. São elo vital entre o sistema tributário e o
contribuinte. São responsáveis diretos pelo sucesso da
entrega de um índice de mais de 90% das declarações
de renda pela internet. Colaboram, orientando ou fazendo gratuitamente
declaração para contribuintes isentos. Têm feito,
além disso, seguidas sugestões para eliminar as filas.
Um pacote de idéias foi encaminhado, no mês de junho, ao
governo federal. Embora voltadas especificamente à agilização
do registro, alteração e baixa de empresas, se implantadas,
trarão reflexos desburocratizantes em todos os órgãos
dos quais os contribuintes dependem, já que há uma inter-relação
entre eles.
Informatização de procedimentos e universalização
da internet são a base das propostas, que prevêem consultas
prévias on-line; integração eletrônica dos
órgãos; eliminação e simplificação
de exigências; uniformização de processos; fixação
de prazo máximo para execução de serviços
requeridos; eliminação de certidões, no caso de
alterações e baixas de empresas; fim da exigência
de obrigações acessórias a partir da comunicação
de paralisação definitiva da empresa; atendimento diferenciado
para os contabilistas; criação de uma agência com
poder de inibir a proliferação de regras descabidas. Medidas
nessa linha com certeza vão eliminar as odiosas filas.