Maurício
Fernando Cunha Smijtink
O governo Lula, que sinalizava com mudanças de efeito social
profundo – o que mais importa nesse País no momento - vem
perdendo tempo com medidas tímidas, paliativas, quando não
cosméticas, a exemplo da proposta de um redutor de R$ 100,00
sobre a base de cálculo do Imposto de Renda Pessoa Física,
aplicável no período de agosto a dezembro de 2004.
“Um ajuste dessa magnitude significa bastante para o trabalhador
e exige do governo um esforço, mas que pode ser feito”,
tentou valorizar o ministro Antônio Palocci. Mas seu argumento
de que o mecanismo irá beneficiar os trabalhadores que recebem
menos é falso. Aqueles que recebem até R$ 1.058,00 não
são atingidos. São simplesmente isentos de Imposto de
Renda. Por fim, mesmo para as faixas salariais “beneficiadas”,
que peso terá o redutor se os R$ 100,00 não serão
deduzidos do imposto a pagar, mas do salário líquido?
O valor a ser abatido pulverizar-se-á ao limite da insignificância,
na proporção em que o salário se elevar.
A idéia, no entanto, foi comemorada como uma “conquista”
até pelos representantes das centrais sindicais. A verdade é
que o redutor não passa de um engodo, perda de tempo, e desvio
da busca de soluções urgentes para os grandes problemas
que afligem o Brasil e o colocam em posições vergonhosas
perante o mundo desenvolvido.
Estava na ordem do dia – e teria resultados bem mais expressivos
- a correção da tabela do Imposto de Renda, conforme promessa
pessoal do Presidente Lula aos trabalhadores, em um dos seus improvisos.
Estava prevista a ampliação das alíquotas, além
das duas vigentes: de 15% para a faixa salarial entre R$ 1.058,00 e
R$ 2.115,00, e 27,5% acima de R$ 2.115,00. A alíquota de 27,5%,
a propósito, foi adotada provisoriamente e deveria ter voltado
aos 25%, em 1999. Estima-se que, de lá para cá, a diferença
já rendeu cerca de R$ 9 bilhões. Diante disso, o que representam
os R$ 500 milhões que o ministro Palocci avalia que o governo
perderá com o redutor?
A definição de alíquotas progressivas, adiada para
o próximo ano, viria atender o princípio da justiça
fiscal: que cada um pague imposto de acordo com suas possibilidades.
Assim como está, sob o ponto de vista da renda, os brasileiros
podem ser classificados, em ricos - uma minoria - e pobres – o
restante.
Antes, estava na pauta dos debates do governo e do Congresso Nacional,
com possibilidade de impacto ainda mais positivo, a reforma tributária.
O último ponto dela acaba de ser aprovado, reduzindo-se à
unificação do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS), para vigorar talvez em 2005.
Esta proposta de reforma tributária foi a nona dos últimos
dez anos. Dez longos anos de debates que envolveram a sociedade, parlamentares,
governos. Representaram gastos incalculáveis, para, no final,
não ser alterado um só parágrafo que não
correspondesse a aumento de arrecadação.
A expectativa da sociedade era de um sistema tributário simplificado
e moderno, capaz de incentivar a produção, coibir a sonegação,
e mesmo aumentar a arrecadação, ampliando o universo de
contribuintes, já que poderia incluir os milhões de empreendedores
e trabalhadores que hoje vivem na informalidade.
Desapontando a população, o governo Lula, com apoio do
Congresso, vem seguindo o princípio de que governar é
arrecadar. Os impostos, taxas e contribuições pagos pelos
contribuintes beiram 40% do Produto Interno Bruto (PIB). Significa que,
para cada R$ 100,00 ganhos no ano, estamos destinando cerca de R$ 40,00
aos cofres públicos. Fala-se em mais de 50 tributos. A Receita
Federal reconhece a existência efetiva de 37. Mas quase 70% de
toda a arrecadação ocorre por conta do ICMS, Imposto de
Renda, contribuição previdenciária, Cofins e contribuição
para o FGTS. Tributos que sobrecarregam quem produz e quem trabalha.
Enquanto o cenário não muda, valorizando o trabalho, a
única alternativa para a maioria dos brasileiros é sonhar
com megaprêmios, como o recente de R$ 46 milhões da Mega
Sena.
Presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná
E-mail: presidente@crcpr.org.br